terça-feira, 24 de setembro de 2013

EU LAMBO A TAMPA DO IOGURTE

            Eu lambo a tampa do iogurte. Já tentei evitar, mas é mais forte que eu. Posso até não comer todo o potinho e jogar o resto fora, mas não resisto àquele restinho que ficou na tampa. No fundo a gente é feito também de um monte de manias esdrúxulas. Quem não tiver as suas que atire o primeiro potinho de Danone.
            Posso passar calor e até precisar ligar o ar condicionado, mas nunca deixo de me cobrir quando durmo. Cheiro os livros antes de ler e penso que isso me diz muito sobre a qualidade desse livro. Dou uma tossidinha ao sair do banho e tenho vontade de declarar guerra a quem aperta a pasta de dente pelo meio.
            Mania, cada louco tem a sua. E realmente é de se duvidar dos limites entre uma mania estranha e a loucura. Tenho um amigo que a todo momento conta os dedos das mãos. Não é possível que ele acredite que algum vai sumir de uma hora para outra. Mas não é loucura, é mania, pelo menos assim ele garante. Imagino o desespero para saber quantos dedos tem no pé que fica fechado no sapato.
            Com as nossas manias a gente se vira, suportar as manias alheias é que é dose. Não suporto quem tem mania de deixar as coisas no plástico para parecer novo. Pelo amor de Deus, ficar aquele plástico encardido e as coisas cheias de etiqueta. Tem sentido uma coisa dessas? Se o negócio é para usar, use sem medo, depois quando não prestar mais a gente vê o que faz.
            Tem mania de secar as coisas atrás da geladeira. Mania de guardar cueca velha para passar cera no carro.  Mania de guardar refrigerante com um garfo no gargalo para não perder o gás (não é possível que isso funcione). Agora, nunca vi mania tão fia quanto ficar juntando resto de sabonete para fazer uma “bolotona”. Aí é demais.
            Tem dentista com mania de conversar enquanto você obviamente não pode responder. Médico tem mania de deixar a gente esperando. Advogado tem mania de falar complicado. Enfim, já que não tem jeito de escapar das manias é melhor a gente aprender a ser feliz com as que precisamos conviver...

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

FUJA QUE O CACHORRO LOUCO ESTÁ AÍ

            E vejam só, já estamos em agosto outra vez. Mês de cachorro louco como dizia minha avó. Enfim a gente se dá conta que o ano já está caminhando para o fim e ainda não fizemos nada daquilo a que nos propomos no começo do ano. O seu pique parece já estar terminado e você começa a pensar somente naquelas férias de dezembro. Calma, ainda é tempo de salvar o seu ano.
            Mas afinal de contas por que essa superstição de que o mês de agosto é azarento? Bem, muitas teorias para explicar isso. Dizem que os Romanos durante a antiguidade acreditavam que no oitavo mês do ano existia um dragão que cuspia fogo pelos céus. Posteriormente se descobriu que esse “fogo no céu” era a constelação de Leão que ficava visível nos céus do hemisfério norte naquela época do ano.
            Em Portugal as moças evitavam se casar em agosto, pois era a época em que saíam as navegações, que podiam levar meses e até anos, deixando as novas esposas sozinhas e sem lua de mel. Essa tradição veio para o Brasil e diz o dito popular que “casar em agosto, traz desgosto”.
            Foi em um mês de agosto que começaram a primeira e a segunda guerras mundiais. Foi em agosto que Hitler tornou-se líder da Alemanha. Foi em agosto que Hiroshima e Nagasaki foram destruídas. Foi em agosto de 1572 que Catarina de Médice ordenou o massacre de São Bartolomeu, matando milhares de pessoas na França.
            E o cachorro louco? Bem, diz-se que é mais comum as cachorras entrarem no cio nesse mês. Deixando os cachorros machos loucos e brigando pelas fêmeas. Bom, seja essa ou não a explicação certa, o fato é que a expressão pegou e é bom você ficar esperto e fugir do cachorro louco.
            Se você ficar sentado esperando o tempo passar logo é dezembro outra vez. Os supermercados já estão vendendo panetone. Então, antes de montar o pinheirinho relembre os seus compromissos para 2013 e corra atrás, antes que o cachorro louco pegue você...
 
 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A VIDA É UM TAMPO DE FOGÃO

         
            Algumas semanas atrás eu estava em casa lendo um livro quando ouvi um enorme estrondo vindo da cozinha. Corri para ver o que tinha acontecido e era o tampo de vidro do fogão que estourou porque liguei o forno com ele fechado, fazendo aquele barulhão. Fiquei morrendo de raiva, mas enfim não havia mais jeito, o tampo do meu fogão já era.
            A partir daí, eu que nunca tinha dado importância aquele tampo de vidro, não deixava de enxergar aquilo cada vez que entrava na cozinha. Nunca tinha sentido a beleza daquele tampo intacto, mas agora, com ele quebrado parecia que tinha perdido muita coisa.
            Foi aí que começou o meu martírio e essa crônica. Comecei a ligar para todos os lugares que eu acreditava que pudessem colocar um tampo novo no fogão, mas ninguém dava solução para o meu problema. O modelo havia saído de linha e o que as pessoas diziam era que mais fácil seria trocar o fogão de uma vez.
            Fiquei pensando em quanta coisa a gente passa a enxergar e dar valor só depois que perde. No fundo o tampo do fogão é igual tudo na vida, só damos valor na hora em que perdemos.
            Pensei também em como somos tantas vezes descartados por causa do que parecemos ser. Ou como julgamos o livro pela capa. O fogão continuava a ter a mesma função que sempre teve, mas por causa de um tampo transparente que não tinha importância nenhuma estava prestes a ser descartado.
            Queremos que a verdade seja mais bonita e mais enfeitada do que ela realmente é, quando a beleza da verdade reside justamente na imperfeição.
            Quantas pessoas e coisas você já descartou da sua vida por causa de um tampo transparente? Todos os dias corremos o risco de descartarmos ou sermos descartados por causa de um tampo que não revela a nossa verdadeira essência. Um lindo tampo transparente não quer dizer que o fogão é usado para fazer comida boa.
            A vida sob muitos aspectos pode ser um tampo de fogão quebrado. Quantas vezes uma briga besta, um ciúme bobo, ou uma discussão idiota promovem o calor que faz o tampo do fogão estourar?
            Ta na hora de aprendermos a dar valor no nosso fogão de várias bocas sem tampo sorrindo pra nós...

quinta-feira, 2 de maio de 2013

VIOLÊNCIA SE COMBATE COM EDUCAÇÃO, CULTURA E INCLUSÃO

            O amigo leitor já reparou como de tempos em tempos a sociedade parece viver uma onda de intolerância. Basta alguma tragédia midiática para reavivar velhas discussões.  De uns tempos para cá, uma das bolas da vez é mais uma vez a maioridade penal. Muita falação e pouca reflexão. Por incrível que pareça ainda tem muita gente por esse país afora acreditando que se pode mudar a realidade com leis.
            Não é segredo para ninguém que temos um sistema carcerário falido e ineficaz, incapaz de cumprir a sua função de ressocializar. Mas ao que parece isso não preocupa a sociedade, uma vez que esse problema não parece bater diretamente a nossa porta. Assim como não nos mobilizamos para que as escolas sejam melhores, desde que a escola do nosso filho seja boa. Não nos preocupamos com a violência na televisão. A miséria não é problema nosso, é dos políticos. E como se os políticos caíssem do céu e não fossem reflexo da nossa escolha de sociedade vamos levando a vida. Assim, a gente acha que o problema da mendicância se resolve não dando esmola, por que a médio prazo serviria para tirar da nossa vista o que não queremos ver. E a violência a gente acha que resolve com leis mais rigorosas.
            Já vi isso tantas vezes. É lei de crimes hediondos achando que isso iria acabar com os crimes graves. Lei de tóxico, achando que com a punição mais severa, o tráfico estaria contido. Lei de violência doméstica achando que isso resolveria o problema da violência contra a mulher. Ao grito da sociedade, leis novas vão surgindo e seguimos tratando o efeito sem tratar a causa. Alguns países do mundo adotam até pena de morte e adivinhem, isso não reduz a criminalidade, ao contrário gera sociedades mais violentas. Quanto mais violenta uma sociedade se dispõe ser por meio de suas leis e instituições inevitavelmente mais violência colherá.
            A mídia espalha a mentira de que adolescentes ficam impunes, quando na realidade muitas vezes recebem uma apenação maior do que a de adultos. O problema da violência juvenil ou não, nunca foi de legislação, sempre foi social e cultural. Vemos as famílias se despedaçarem e toleramos a tudo isso e queremos que de uma sociedade doente surjam jovens sadios.
            Queremos cadeia para os filhos dos outros, pois quando são os filhos da classe média que pisam na bola a gente acha que não é caso de prender. É assim que playboyzinho que usa drogas de ponta circula livremente pelas faculdades e são muito bem quistos. É assim que as mães protegem os filhos que chegam bêbados em casa no final da madrugada depois de fazerem sabe o que pela rua. É assim que a gente tolera racha, é assim que a gente suporta que nossos filhos se achem melhores que os outros e cometam bullyng (ou seja lá como se chama) contra qualquer um. Os pais aplaudem os filhos machos que pegam o carro para sair pegando as menininhas, e depois saírem contando vantagens e destruindo a moral de qualquer uma.  Agora se é o favelado que aponta uma arma para alguém esse tem que ser preso. Afinal de contas quem são o “eles” que devem ter a maioridade penal reduzida?
            A gente não vê movimento social para ajudar as famílias vítimas das drogas. A gente não vê movimentos de verdade pela cultura, pela educação, pela inclusão. Discursamos muito, fazemos muito pouco. Colocamos a culpa nos políticos e dormimos tranquilos. É mais conveniente para todo mundo eliminar os miseráveis do que as misérias que os produzem. Entre as muitas causas de violência no Brasil não se encontra a idade de responsabilização criminal. Por fim, entendo que de uma forma ou de outra a nossa Constituição não permite a redução, mas nem por isso consigo deixar de ficar incomodado com a discussão...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

BOBEIRA PEGA

           Não é só catapora, gripe suína e gonorreia que são transmissíveis, bobeira também pega. Não importa o quão séria seja uma pessoa, se ficar exposta a ambientes bobagentos se contagiará.  É muito interessante vermos o país todo contagiado por bordões de personagens que depois se incorporam ao vocabulário popular.

            É gente que é a cara da riqueza. É Luiza que vai para o Canadá. Jesus que apaga a luz. Não é brinquedo não, dizia Dona Jura. Ao que Ofélia preferia nem comentar. Enfim... cada mergulho é um flash. Mas é melhor só abrir a boca quando tem certeza, para não correr o risco de ouvir um “vem cá, eu te conheço?”.

            Tem muita lei que “não pega”, mas bobeira não passa uma. Advinha quem está falando? Perguntava o candidato, ao que ele mesmo respondia: “Sou eu o abestado! Enganei vocês, pensaram que era outra pessoa!” O resultado? Uma das maiores votações da história do país. Não pelas ideias, mas pela bobeira. Adoramos uma boa anedota, perdemos o amigo mais não a piada. Quer dizer, menos eu, que perco o amigo, perco a piada, perco dinheiro, só não perco peso.
 
            Foi assim que uma prostituta virou sucesso na venda de livros e se tornou tema de filme. Quanto mais bobeira, mais sucesso. É bobagem ver uma cantora errando o hino nacional? Mas o vídeo atraiu milhões de espectadores no Youtube. Política vira piada, O papa vira piada. Religião vira piada, tragédia vira piada. O Humor negro não deixa ninguém de fora e dá-se um jeitinho de sacanear todo mundo, pois como diria seu Ladir, sacanear é Maraaa.
 
            Mas deixando de lado os entretantos e indo direto aos finalmentes, é bom tomar cuidado por que bobeira pega. Nunca diga dessa água não beberei pois você corre o risco de se pegar cantando a plenos pulmões uma das belas canções de Mister Catra, ou falando para alguma garota, me cheira, me chama de Mon Bijou...
 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

É O GOSTO DA PESSOA

             A gente sofre mais se diverte. Esses dias liguei para uma prima que não podia me atender porque naquele momento iriam anunciar o vencedor de um “reality show” muito popular. Minha tia mais que depressa foi justificando “é o gosto da pessoa”. Na hora lembrei-me de uma personagem do Pedro Bismark que tinha esse bordão. Essa é uma verdade quase filosófica, para tudo se arruma gosto e quem goste, não importa o que seja. Pode testar. Quando você encontrar uma roupa bem feia numa loja, repare onde ela está e passe lá dias depois. Já não vai estar mais, porque tem quem goste, e se na verdade, é o gosto da pessoa, vai se fazer o que?
            É o gosto da pessoa comer jiló amargo e pimenta ardida. É o gosto da pessoa andar de gravata e camisa curta ou então vestir-se com roupas listradas dos pés a cabeça. Andar de carro com som estourando de alto ou então roncando motor, falar gritando no celular, se meter em conversa alheia, votar em partido de direita, puxar o saco, ficar fazendo pergunta na hora que a aula está terminando, não há o que se possa fazer, é tudo o gosto da pessoa. E olha, quando o gosto sai do íntimo não adianta discutir, não há argumento que convença.
            Se o sujeito deixa o cabelo crescer e joga de lado para tampar a careca, não se espante é assim mesmo, ele gosta. Tem gente que gosta de dar palpite em qualquer assunto, o tempo todo; gosto é gosto. Como bem diz minha avó “o que é de gosto é regalo da vida”. Mulher que gosta de homem canalha ou homem que gosta de mulher canalha, se for gosto... regalo da vida e ponto.
            Parece até brincadeira, mas entender e aceitar que as pessoas tem gostos diferentes dos nossos é uma verdade que pode lhe poupar muitos sofrimentos. Guerras já foram travadas por não se compreender o gosto alheio. Famílias inteiras destruídas porque não tinham a sabedoria de minha avó para compreender que o que é de gosto é regalo da vida. Não tem sentido algum ficar tentando fazer um masoquista se convencer de que levar chicotada é ruim ou tentar convencer alguém de cultura diferente que comer barata é nojento.
            Ser tolerante nunca foi uma coisa fácil, mas estou convencido de que é um dos caminhos para a paz. Até porque nos firmarmos como donos da verdade é o primeiro passo para o ridículo. Aceite que não da para mudar o mundo todo, então concentre suas forças para mudar só aquilo que valha a pena, ou que vá fazer de você uma pessoa melhor. Sim, eu sei que o cara da caminhonete com som alto sempre vai te incomodar, mas não precisa morrer por isso, é o gosto da pessoa...

domingo, 31 de março de 2013

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM

            Odeio quando alguém me diz: “posso ser sincera?”. Ninguém nunca é sincero pra falar coisa boa ou pra trazer uma nova esperança. Essa pergunta é o mesmo que dizer “se prepara pra levar porrada”. Não quero que seja sincera comigo. Pode mentir pode me enganar. Eu nunca te pedi sinceridade. Pedi amor.
            Abaixo esse negócio de sinceridade pra destruir os outros “educadamente”. É obvio que não gosto que falem mal de mim pelas minhas costas, mas gosto menos ainda quando falam na minha frente. Por que não experimenta de lado? Não quero sinceridade para dizer que eu estou feio ou que estou gordo. Não quero sinceridade que me diga que estou equivocado. Essas coisas todas a gente sabe ou descobre intuitivamente.
            Nunca acreditei de verdade nessa história de preferir uma verdade que faça chorar a uma mentira que faça sorrir. Que louco em sã consciência prefere isso? Quero as mentiras todas que me façam sorrir. Da realidade e dos choros eu cuido depois. Sinceras, quero só as mentiras. Ao contrário do que pode parecer, tenho grandes e graves dúvidas se as pessoas sinceras querem mesmo o nosso bem.
            Ah, não me dê sinceridade. Dê-me um livro de poesia. Conte-me como a lua fica mais bonita quando estou por perto. Fale que está me achando mais magro, que a roupa ficou bem, que eu fico bonito de gravata borboleta ou que lembro um ator de Hollywood. Guarde a sua sinceridade para os que têm urgência do amanhã. Eu tenho todo tempo do mundo para descobrir as coisas sozinho. Quero as mentiras triunfantes, prefiro os contos de fada no lugar das tragédias contemporâneas. Quero os amores e as sacanagens urbanas.
            Não tenho necessidade de entender. Já amei tantas coisas sem entender. Quero o seu sorriso mais doce, não a sua sinceridade. Quero a tua boca com batom vermelho. Quero sonhar, pois pra ficar acordado tenho o resto do dia...

segunda-feira, 25 de março de 2013

TUDO VALE A PENA?

          Topei me envolver e acabei sozinho. Apostei e perdi a aposta. Cantei, mas a voz não saiu. Fui experimentar jiló e acabei estragando o arroz. Acordei mais tarde e perdi o sono de noite. Fui honesto e tive que ver desonestos passarem a minha frente. Estendi a mão e ela ficou no ar. Sonhei e tive que me deparar com a realidade.   
          Na vida é inevitável, mais dia ou menos dia, perguntar se alguma coisa valeu a pena. Quando me formei jurei buscar a justiça onde quer que ela se encontre. Descobri que, como regra, ela não se encontra nos fóruns, nos gabinetes ou tampouco na mão de pomposas autoridades que não tem compromisso nenhum a não ser com o seu ego.
          É muita gente falando demais e passando maquiagem em excesso para esconder o próprio rosto. É muita gente condenando aquilo que apoia em segredo. Rindo em público para chorar escondido. Quem já não quis um abraço de uma pessoa e percebeu-a fingindo que não te viu. Quantas pessoas estavam ao seu lado nas horas boas e quantas mudaram de postura quando você mais precisava.
          Eu moro na mesma casa em que eu nasci, e embora não seja muito extrovertido, conheço mais ou menos a história de quase todo mundo do meu bairro. Essa semana meu pai me lembrou de dois senhores que moravam aqui e já faleceram, dois homens santos, desses com os quais às vezes a gente cruza na vida, um se chamava Sr. Luiz Ezaú e o outro Sr. Pedro Rezende. Ambos eram pessoas muito simples e possuíam a sabedoria que só surge da humildade. Os dois construíram famílias grandes alicerçadas nos valores do amor e do bom exemplo.
         Lembrar-me desses dois senhores essa semana ali trabalhando na igrejinha de São Francisco me fez perceber que a vida é muito maior que os dramas com os quais a gente se depara, e que de fato não precisa muito para ser feliz. Acho que passaram a vida sem grandes glórias ou reconhecimentos, mas isso não foi necessário para que hoje, anos depois de suas mortes, eu me lembrasse deles com carinho.
        Talvez, quem sabe, não seja mesmo tudo que valha a pena. Então, na medida do possível deixe pra lá aquilo que não vale. Faça com amor aquilo que tiver que fazer. Faça sexo com amor, política com amor, amizade com amor, trabalho com amor e tudo isso, além de ser mais natural, valerá muito a pena...
 
 

quarta-feira, 13 de março de 2013

HABEMUS PAPAM FRANCISCUM

          
          Bendito o que vêm em nome do Senhor! A igreja e os católicos comemoram a eleição de seu novo papa em um conclave que surpreendeu a todos elegendo um latino-americano. Não precisou de muito tempo para que pudéssemos perceber claramente alguns sinais da mudança com o novo papa. Uma escolha surpreendentemente rápida e que já na apresentação do pontífice apresentou momentos de emoção e de uma nova postura diante do poder do cargo.
            Francisco, esse foi o nome escolhido pelo Cardeal Latino-americano Jorge Mario Bergoglio. Ao que tudo indica o nome é realmente uma homenagem a São Francisco de Assis com quem o novo papa se assemelharia muito no estilo de vida. Pessoa de hábitos modestos e um bom intelectual que não gosta de ostentar conhecimento ou se ater a formalidades.
            Vimos sair do conclave um papa diferente. Um papa que humildemente se curva diante do povo e pede orações. Um papa que na primeira aparição optou por vestes simples e trocou orações mais pomposas em latim por um Pai Nosso e uma Ave Maria junto com os fiéis. Um papa que na primeira oportunidade preferiu ele mesmo segurar o microfone ao invés que assessores o fizessem.
            Fico feliz com as novas perspectivas. É tempo de em unidade enchermos o coração de esperança nesse novo capítulo da construção da história da igreja. Que a eleição de um papa não europeu mostre de fato a igreja se voltando mais para todo o mundo, especialmente para os lugares em que mais existe miséria e violência. Queremos uma igreja romana, com mãos e braços nas Américas, coração nos países asiáticos e cabeça na África. Uma igreja de muitas cores, muitas caras e muitas línguas. Uma igreja com muitos sotaques formando um grande corpo místico de Cristo.
            Gosto da alegria de ver novos horizontes se descortinando para que gradualmente a igreja esteja cada vez mais próxima das aflições das pessoas e a exemplo de São Francisco, abra mão de formalidades para caminhar junto com o povo. Não queremos só um papa que nos guie, queremos um papa que ande junto conosco. Que a igreja além de apontar Deus, vivencie e experimente cada vez mais o seu sabor e a sua graça.
            “Habemus Papam” e queremos uma igreja sempre e cada vez mais comprometida com os valores ambientais, com o amor, contra a desigualdade e o preconceito. Que sejam de fato novos tempos e que a fumaça branca nos sirva de incentivo para sermos cada vez cristãos melhores e mais comprometidos com o projeto de Jesus. Que a paz entre as religiões seja capaz de antecipar o paraíso cultivado no coração de todos os homens.
            Que Deus abençoe nosso novo Papa, a igreja e todo o povo de Deus. Que a nova história que se começa a escrever seja digna de belas passagens. Seja bem vindo Papa Francisco...

quarta-feira, 6 de março de 2013

FUJA DA ROTINA

            Coloque o seu guarda chuva de férias e saia para tomar chuva. Na chuva dance e cante Sandra Rosa Madalena ou talvez o retorno do boêmio. Deixe o carro na garagem, ande a pé, ande de bicicleta, de skate ou de carrinho de rolimã. Vá passear na feira ao invés de ir ao supermercado, ou melhor plante uma horta e distribua verdura entre os vizinhos.
            Estude. Estude o direito, o avesso, sanfona ou quem sabe gaita de boca. Aprenda também a tocar panelas, velha prática de infância que você foi deixando de lado. Toque uma campainha qualquer e saia correndo para voltar a sentir adrenalina de um ato inocente. Cante no coral da igreja ou monte um coral na empresa.  
           
            Desenhe em uma parede com giz de cera. Faça um coração com a mão para a garota no carro do lado. Ligue para alguém que você gosta e conte isso a essa pessoa. Ligue para sua operadora de celular e a perdoe de todas as raivas pelas quais ela já fez você passar. Perdoe também os motoristas dos carros de som no sábado de manhã, os fofoqueiros e aquela tia velha que insiste em se meter na sua vida.
 
            Deixe comerem a última bolacha do pacote, passe embaixo das escadas e deixe que varram os seus pés. Case sem namorar. Não chore para fazer drama, mas chore no meio de um filme bonito. Troque sua agenda por uma passagem de ônibus.
 
            Dance. Dance sozinho. Dance no escuro ou mesmo sem música. Sorria para a caixa do banco. Saia para dar um abraço no lixeiro. Faça uma careta para aquele chato que te tortura com som ruim alto e grite para ele, pare de me amolar com essa porcaria de música! Aprenda a fazer receitas diferentes com miojo. Experimente colocar legumes diferentes no meio do arroz. Prove uma comida diferente. Coma manga com leite, faça suco de melancia.
 
            Tire fotos que te deixem feliz. Revele essas fotos e as espalhe pela sua casa. Tire fotos por lugares da cidade que você não tem, quem sabe abraçando o homem do centenário. Adote um cachorro e saiam para caminhar no por do sol. Levante uma hora mais cedo ou durma uma hora mais tarde. Ou então durma uma hora mais tarde e acorde uma hora mais tarde. Troque a televisão de domingo por um bom livro. Leia os clássicos e entenda por que são clássicos. Lave a garagem cantando um samba. Saia sem casaco e se arrisque a pegar uma gripe.
            Tome banho de sol, tome banho de escuro, tome banho de cachoeira. Não transforme amor em sinônimo de ciúme ou mesquinharia. Cometa mais bobagens. Solte um palavrão. Troque o certo pelo duvidoso. Conte uma piada. Viva a vida e descubra que ela pode ser uma grande e maravilhosa aventura...
 
 

SORRIA, MEU BEM, SORRIA...



          
            Assisti na Globo News esses dias uma  matéria dando conta de que novos estudos indicam que até mesmo que sorri forçado tem bons reflexos desse sorriso na sua saúde. Convenhamos, não é todos os dias que a gente acorda com o pé direito e com vontade de sair mostrando os dentes pra todo mundo. Nesses dias quem sabe um sorriso forçado pode ajudar alguma coisa.
            Para demonstrar a tese o estudo utilizou aqueles pauzinhos de comida japonesa que acho que chamam Hashi. Bom, o repórter colocava aqueles pauzinhos horizontalmente no meio dos dentes e ficava com um não muito belo sorriso forçado. Os estudos nesse caso, afirmavam que só de os músculos estarem contraídos em forma de sorriso uma mensagem boa era enviada para o cérebro comunicando que estava tudo bem e que ele poderia relaxar.
 
            Com isso o cérebro aliava o estresse e fortalecia o sistema imunológico, permitindo mais relaxamento, maior concentração e menos fragilidade as doenças. Pois bem. Fica aí a dica. Natural ou forçado parece que sorrir faz mesmo bem.

           Além dessa notícia, assistindo a última audiência geral do Papa Bento, fiquei contente com a menção de uma das partes da bíblia que mais gosto, que é quando Jesus está no barco com os discípulos e se recolhe para dormir. Eis que vem uma grande tempestade e as ondas quase cobriam a barca.
Os discípulos então, teriam ficado desesperados e correram para acordar Jesus. “Mestre, estamos morrendo, salva-nos”. Jesus levantou, olhou bravo para eles e disse “Homens de pouca fé, por que tens medo?”. Tendo dito isso deu ordem aos ventos e ao mar e fez-se uma grande calmaria.
Essa passagem sempre me faz lembrar a nossa pouca fé. Quantas vezes ficamos desesperados em meio as turbulências da vida sem perceber solução e achando que tudo está perdido. Com isso, acabamos por nos esquecer do principal. Deus está no barco! Não deixemos que a desesperança e a nossa falta de fé façam com que nos esqueçamos dessa verdade maravilhosa. As tempestades vão passar porque Deus está no barco conosco.
           Então amigo leitor te desejo uma semana cheia de sorrisos. Se a vida não estiver lá essas coisas force um sorriso assim mesmo, mal não vai fazer e jamais se esqueça disso, Deus está no barco...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

GUAXUPÉ, CIENTIFICAMENTE

            Guaxupé, centenária cidade localizada no sul de Minas Gerais se diferencia inicialmente das outras cidades que não são mineiras. Entre os aspectos meteorológicos, os dias são divididos entre aqueles que chovem e aqueles em que não cai chuva alguma. Também o clima pode se apresentar entre períodos de frio, períodos de calor e períodos em que não faz frio nem calor.
            Culturamente destacam-se as festas, embora deva se admitir que existam pessoas que não façam festa alguma. As manifestações culturais por vezes se manifestam e por vezes não. No tocante as folias de reis o interessante é que há quem goste e quem não goste, bem como da expoagro, da festa das orquídeas e do carnaval.
            A cidade apresenta áreas que são de montanha e áreas de planície, sendo notória a preferência popular de caminhar nas áreas de planície e cumprir penitências nas áreas de montanha. Muitas subidas existentes por toda a cidade podem tornar-se descidas conforme o ponto de vista do observador.
            A flora divide-se entre as regiões floridas e as regiões sem flores. Há quem possua animais e lhes deem um nome, que os possua e não lhes dão nome algum e aqueles que não os possuam.
            Na política historicamente se encontram executivos que gostam de legislar, legislativos que querem executar e judiciário que goste de legislar e executar, sendo muito comum que os três poderes façam cada um seus julgamentos próprios. Esses poderes em parte do tempo convivem harmonicamente e em parte do tempo não.
            A população pode ser conhecida pela gentileza ou ausência de gentileza, dependendo de cada pessoa. Divide-se economicamente em três classes sociais, rica, média e pobre, sendo característica dessa divisão que a classe média possua menos bens que a classe rica, mas que possua mais recursos que a classe pobre. Pertinente destacar que entre os moradores existem os que são nascidos aqui e os que vieram para cá.
            Religiosamente a cidade possui diversas religiões com a primazia do único caminho da salvação eterna. Também possui ateus e agnósticos.
            O comércio se destaca pela característica de vender, embora não se possa negar que gostaria de vender mais. Também os compradores que compram no comércio gostariam de comprar mais, todavia impossibilidades financeiras impedem a conjunção plena de ambas as vontades...

CADA MACACO NO SEU GALHO

             Aconteceu uma coisa muito perigosa aqui em casa. Existiam paredes para serem pintadas e existia uma lata de tinta. No meio da necessidade e da possibilidade estava eu, e não deu outra, resolvi pintar a parte do muro e da garagem que precisavam ser pintados.
            Muito sabidamente, comprei pincéis, brochas, alongadores, massa corrida, hipermeabilizador de parede, água raz, bandeja de pintura, enfim, equipamentos para pintar uma catedral. Coloquei boné para proteger do sol, roupas que julguei adequadas e estava pronto para o serviço.
            Foi então que tudo começou a dar errado. Na diluição da tinta. A água raz parecia que não se misturar com a tinta, muito menos servir para diluí-la uma ficou de um lado e a outra do outro. Pensei que a solução óbvia para o problema fosse usar a tinta sem diluição. Não deu certo. Ficava tudo e com nacos de tinta na parede. Passei para o plano B, diluir com água. Foi pior ainda, na raiva acho que acabei colocando muita água exigindo, assim, umas oito ou nove demãos para que a parede ficasse da cor desejada.
            Suando em bicas, eu passava o rolo na parede e a tinta rala de água insistia em escorrer até o chão. Uma demão e nada, duas demãos e nada, minha roupa podia ser torcida de tanto suor. O boné eu já tinha jogado longe de calor. A pintura parecia muito aquelas que fazia no jardim de infância.
            Foram mais várias demãos, suor e sujeira chão afora, até que me desse por satisfeito. Mas enfim estava lá, a parede pintada e economizando pintor. Foi então que São Pedro não perdoou minha avareza e mandou do céu uma chuva boa e forte que em cinco ou seis minutos conseguiu acabar com tudo.
            Moral da história, cada macaco no seu galho. Como pintor, sou mesmo é advogado e não quero mais saber de pintar nada. Só o que gastei de materiais e tinta perdida dava para ter pago várias vezes um pintor profissional e me livrado desse estresse. O barato saiu caro. Agora ainda resta o chão para limpar e a história para contar...

MINHAS SINCERAS DESCULPAS 2

            Mais uma vez preciso usar esse espaço para me desculpar. Desta vez é com as mulheres e suas manicures. Ao observar a rotina das mulheres que me circundam sempre achei que se perdia muito tempo e dinheiro com uma preocupação que até então eu considerava secundária: fazer as unhas. Me parecia sinceramente que se tratava de um capricho da vaidade feminina que até certo ponto ainda parece tão misteriosa a nós homens. Ignorava eu, pobre ser limitado, a extensa contabilidade de benefícios filosóficos, sociológicos e psicológicos que se desfruta em uma audiência com a sua manicure de confiança. Senhoras e manicures: minhas sinceras desculpas.
            Uma unha encravada me levou até a profissional das unhas que dá expediente em um salão não muito longe da minha casa. A primeira reação do salão com a minha entrada foi um silencio sepulcral, como se eu estivesse violando a área restrita de algum templo religioso. Todavia, aos poucos o salão foi recuperando sua forma natural e as conversas e debates combativos retornavam ao ritmo frenético.
            O hábito de frequentar o salão foi ficando claro para mim. Não se trata de um mero compromisso estético, mas sim de uma profunda reunião terapêutica, um valioso exercício de convivência social, uma mesa redonda de debates dos temas que não são tratados no jornal das oito.
            A manicure oferece a mulher uma coisa que nós temos dificuldades para oferecer: ela escuta até o fim. Não importa o que seja. Ela escuta. Enquanto nós homens interrompemos, oferecemos soluções antes de saber do problema, fingimos interesse, a manicure houve tudo. Igual a um confessionário, ali não existem assuntos proibidos, temas cerceados, debates impossíveis. A manicure houve tudo e não te julga, não te condena, não te discrimina.
            Imaginem o custo benefício de uma sessão dessas. Quanto se economiza com psicólogos e psicanalistas, e ainda de brinde, sai com as unhas pintadas. A terapia pode ser individual ou em grupo, quando então você colhe imediatamente uma opinião avalizada de parcela da sociedade sobre os seus problemas. Ao mesmo tempo já se consola, pois imediatamente é apresentada a jurisprudência de muitos casos semelhantes ao seu, quando então, a amiga cliente ode perceber que não está sozinha. E aprende a não reclamar, pois também encontrará casos piores que o seu.
            Se você precisa levar algum tema ao conhecimento público basta procurar a sua manicure. Os assuntos se propagam com uma velocidade incrível e você se poupa de um longo e dispendioso planejamento de mídia. E como as pessoas querem ser lembradas, nada melhor do que ser parte de uma boa fofoca. Fofoca sim, pois na medida em que a notícia diminui a fofoca somente aumenta.
            Para nós homens também será no salão o melhor lugar para paquerar, lá estarão mulheres de todas as maneiras e para todos os gostos, como você jamais encontrará em nenhuma outra balada. Loiras, ruivas, morenas, mulatas, todas no salão mais próximo da sua casa aguardando por você.
            Dizer que salão é perda de tempo e dinheiro é uma tolice de quem desconhece o observatório humano que se passa ali dentro. Hoje eu sei disso e me desculpo formalmente. Não há melhor programa durante a semana. Amigo leitor, saia da poltrona, pegue seus bobs e vamos todos para o salão interagir...

É CUECA DE MACHO


             Essa semana fui a Monte Belo resolver uns problemas. Na volta, como ainda tinha uma hora e meia até o próximo compromisso, resolvi entrar em Juruaia e ver o movimento da cidade já que fazia muito tempo que não passava por lá. Fiquei estupefato com os verdadeiros templos da lingerie que lá estavam edificados. Ruas e avenidas tomadas por lojas e confecções para todos os gostos e fetiches possíveis.
            Talvez a antropologia, no futuro, se dedique a estudar a diferença que homens e mulheres dão às roupas intimas. Bem garante o ditado que se um homem está preocupado com suas cuecas é por que tem amante. Geralmente não sabemos sequer qual cueca estamos usando até nos depararmos com ela na hora do banho ou na hora de vestir depois da transa. Diferente da mulher que parece escolher meticulosamente qual peça usar. Se marca, se não marca se parece ou tantas outras teorias.
          Para que um homem se desfaça de sua cueca a situação de calamidade deve geralmente ser constatada por uma terceira. Vamos amontoando cuecas na gaveta desde a época em que éramos crianças, se bobear, será possível encontrar fraldas ou cueiros nesta gaveta. Cuecas furadas, puídas, mal conservadas, chiques e bregas, novas e velhas repartem o espaço sagrado da gaveta masculina.
            Comprar cuecas é uma tarefa que não agrada a nós homens e que fazemos para nos desincumbir da missão. De preferência, que venha em um pacote com meia dúzia. Experimentar uma cueca em um provador ou mesmo levar para casa para definir qualquer modelo são pecados mortais para o homem que, quando muito, se arriscará a decidir o tamanho e a cor. Homem nunca vai dar falta de uma cueca desaparecida, muito menos enlouquecer por causa disso.
             Gaveta de mulheres e homens nada tem em comum. A mulher dobra com cuidado. Põe bojo dentro de bojo. Passa e dobra com as mais variadas técnicas e sutilezas. A cueca é praticamente jogada na gaveta sem distinção ou maiores homenagens. Um tempo atrás fui em uma loja da cidade comprar cueca. A vendedora solícita enquanto tentava me vender uma camisa percebeu que eu havia pego um pacote com duas cuecas e foi logo tentando me desestimular, “essas são muito simplinhas”, não hesitei, “é cueca de macho”.
            A cueca é símbolo da simplicidade masculina. Aliás, de modo geral, homem é simples para se vestir. Homem não fica em dúvida de qual conjunto vestir e só volta pra trocar de roupa por problemas técnicos. Ou não serve ou a camisa está sem botão ou o zíper está estourado. Nunca nos apavora a possibilidade de outro homem estar vestido igual. Achamos até muito divertido. Diga-me amigo leitor se é ou não digno de estudo a diferenças entre os sexos à luz da cueca?  Preste atenção e verá que a sua roupa íntima pode ter muito de você para contar...