quinta-feira, 2 de maio de 2013

VIOLÊNCIA SE COMBATE COM EDUCAÇÃO, CULTURA E INCLUSÃO

            O amigo leitor já reparou como de tempos em tempos a sociedade parece viver uma onda de intolerância. Basta alguma tragédia midiática para reavivar velhas discussões.  De uns tempos para cá, uma das bolas da vez é mais uma vez a maioridade penal. Muita falação e pouca reflexão. Por incrível que pareça ainda tem muita gente por esse país afora acreditando que se pode mudar a realidade com leis.
            Não é segredo para ninguém que temos um sistema carcerário falido e ineficaz, incapaz de cumprir a sua função de ressocializar. Mas ao que parece isso não preocupa a sociedade, uma vez que esse problema não parece bater diretamente a nossa porta. Assim como não nos mobilizamos para que as escolas sejam melhores, desde que a escola do nosso filho seja boa. Não nos preocupamos com a violência na televisão. A miséria não é problema nosso, é dos políticos. E como se os políticos caíssem do céu e não fossem reflexo da nossa escolha de sociedade vamos levando a vida. Assim, a gente acha que o problema da mendicância se resolve não dando esmola, por que a médio prazo serviria para tirar da nossa vista o que não queremos ver. E a violência a gente acha que resolve com leis mais rigorosas.
            Já vi isso tantas vezes. É lei de crimes hediondos achando que isso iria acabar com os crimes graves. Lei de tóxico, achando que com a punição mais severa, o tráfico estaria contido. Lei de violência doméstica achando que isso resolveria o problema da violência contra a mulher. Ao grito da sociedade, leis novas vão surgindo e seguimos tratando o efeito sem tratar a causa. Alguns países do mundo adotam até pena de morte e adivinhem, isso não reduz a criminalidade, ao contrário gera sociedades mais violentas. Quanto mais violenta uma sociedade se dispõe ser por meio de suas leis e instituições inevitavelmente mais violência colherá.
            A mídia espalha a mentira de que adolescentes ficam impunes, quando na realidade muitas vezes recebem uma apenação maior do que a de adultos. O problema da violência juvenil ou não, nunca foi de legislação, sempre foi social e cultural. Vemos as famílias se despedaçarem e toleramos a tudo isso e queremos que de uma sociedade doente surjam jovens sadios.
            Queremos cadeia para os filhos dos outros, pois quando são os filhos da classe média que pisam na bola a gente acha que não é caso de prender. É assim que playboyzinho que usa drogas de ponta circula livremente pelas faculdades e são muito bem quistos. É assim que as mães protegem os filhos que chegam bêbados em casa no final da madrugada depois de fazerem sabe o que pela rua. É assim que a gente tolera racha, é assim que a gente suporta que nossos filhos se achem melhores que os outros e cometam bullyng (ou seja lá como se chama) contra qualquer um. Os pais aplaudem os filhos machos que pegam o carro para sair pegando as menininhas, e depois saírem contando vantagens e destruindo a moral de qualquer uma.  Agora se é o favelado que aponta uma arma para alguém esse tem que ser preso. Afinal de contas quem são o “eles” que devem ter a maioridade penal reduzida?
            A gente não vê movimento social para ajudar as famílias vítimas das drogas. A gente não vê movimentos de verdade pela cultura, pela educação, pela inclusão. Discursamos muito, fazemos muito pouco. Colocamos a culpa nos políticos e dormimos tranquilos. É mais conveniente para todo mundo eliminar os miseráveis do que as misérias que os produzem. Entre as muitas causas de violência no Brasil não se encontra a idade de responsabilização criminal. Por fim, entendo que de uma forma ou de outra a nossa Constituição não permite a redução, mas nem por isso consigo deixar de ficar incomodado com a discussão...

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