O
amigo leitor já reparou como de tempos em tempos a sociedade parece viver uma
onda de intolerância. Basta alguma tragédia midiática para reavivar velhas
discussões. De uns tempos para cá, uma
das bolas da vez é mais uma vez a maioridade penal. Muita falação e pouca
reflexão. Por incrível que pareça ainda tem muita gente por esse país afora
acreditando que se pode mudar a realidade com leis.
Não é
segredo para ninguém que temos um sistema carcerário falido e ineficaz, incapaz
de cumprir a sua função de ressocializar. Mas ao que parece isso não preocupa a
sociedade, uma vez que esse problema não parece bater diretamente a nossa
porta. Assim como não nos mobilizamos para que as escolas sejam melhores, desde
que a escola do nosso filho seja boa. Não nos preocupamos com a violência na
televisão. A miséria não é problema nosso, é dos políticos. E como se os
políticos caíssem do céu e não fossem reflexo da nossa escolha de sociedade
vamos levando a vida. Assim, a gente acha que o problema da mendicância se
resolve não dando esmola, por que a médio prazo serviria para tirar da nossa
vista o que não queremos ver. E a violência a gente acha que resolve com leis
mais rigorosas.
Já vi
isso tantas vezes. É lei de crimes hediondos achando que isso iria acabar com
os crimes graves. Lei de tóxico, achando que com a punição mais severa, o
tráfico estaria contido. Lei de violência doméstica achando que isso resolveria
o problema da violência contra a mulher. Ao grito da sociedade, leis novas vão
surgindo e seguimos tratando o efeito sem tratar a causa. Alguns países do
mundo adotam até pena de morte e adivinhem, isso não reduz a criminalidade, ao
contrário gera sociedades mais violentas. Quanto mais violenta uma sociedade se
dispõe ser por meio de suas leis e instituições inevitavelmente mais violência
colherá.
A
mídia espalha a mentira de que adolescentes ficam impunes, quando na realidade
muitas vezes recebem uma apenação maior do que a de adultos. O problema da
violência juvenil ou não, nunca foi de legislação, sempre foi social e
cultural. Vemos as famílias se despedaçarem e toleramos a tudo isso e queremos
que de uma sociedade doente surjam jovens sadios.
Queremos
cadeia para os filhos dos outros, pois quando são os filhos da classe média que
pisam na bola a gente acha que não é caso de prender. É assim que playboyzinho
que usa drogas de ponta circula livremente pelas faculdades e são muito bem
quistos. É assim que as mães protegem os filhos que chegam bêbados em casa no
final da madrugada depois de fazerem sabe o que pela rua. É assim que a gente
tolera racha, é assim que a gente suporta que nossos filhos se achem melhores
que os outros e cometam bullyng (ou seja lá como se chama) contra qualquer um. Os
pais aplaudem os filhos machos que pegam o carro para sair pegando as
menininhas, e depois saírem contando vantagens e destruindo a moral de qualquer
uma. Agora se é o favelado que aponta
uma arma para alguém esse tem que ser preso. Afinal de contas quem são o “eles”
que devem ter a maioridade penal reduzida?
A
gente não vê movimento social para ajudar as famílias vítimas das drogas. A
gente não vê movimentos de verdade pela cultura, pela educação, pela inclusão.
Discursamos muito, fazemos muito pouco. Colocamos a culpa nos políticos e
dormimos tranquilos. É mais conveniente para todo mundo eliminar os miseráveis
do que as misérias que os produzem. Entre as muitas causas de violência no
Brasil não se encontra a idade de responsabilização criminal. Por fim, entendo
que de uma forma ou de outra a nossa Constituição não permite a redução, mas
nem por isso consigo deixar de ficar incomodado com a discussão...
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