quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MINHAS SINCERAS DESCULPAS 2

            Mais uma vez preciso usar esse espaço para me desculpar. Desta vez é com as mulheres e suas manicures. Ao observar a rotina das mulheres que me circundam sempre achei que se perdia muito tempo e dinheiro com uma preocupação que até então eu considerava secundária: fazer as unhas. Me parecia sinceramente que se tratava de um capricho da vaidade feminina que até certo ponto ainda parece tão misteriosa a nós homens. Ignorava eu, pobre ser limitado, a extensa contabilidade de benefícios filosóficos, sociológicos e psicológicos que se desfruta em uma audiência com a sua manicure de confiança. Senhoras e manicures: minhas sinceras desculpas.
            Uma unha encravada me levou até a profissional das unhas que dá expediente em um salão não muito longe da minha casa. A primeira reação do salão com a minha entrada foi um silencio sepulcral, como se eu estivesse violando a área restrita de algum templo religioso. Todavia, aos poucos o salão foi recuperando sua forma natural e as conversas e debates combativos retornavam ao ritmo frenético.
            O hábito de frequentar o salão foi ficando claro para mim. Não se trata de um mero compromisso estético, mas sim de uma profunda reunião terapêutica, um valioso exercício de convivência social, uma mesa redonda de debates dos temas que não são tratados no jornal das oito.
            A manicure oferece a mulher uma coisa que nós temos dificuldades para oferecer: ela escuta até o fim. Não importa o que seja. Ela escuta. Enquanto nós homens interrompemos, oferecemos soluções antes de saber do problema, fingimos interesse, a manicure houve tudo. Igual a um confessionário, ali não existem assuntos proibidos, temas cerceados, debates impossíveis. A manicure houve tudo e não te julga, não te condena, não te discrimina.
            Imaginem o custo benefício de uma sessão dessas. Quanto se economiza com psicólogos e psicanalistas, e ainda de brinde, sai com as unhas pintadas. A terapia pode ser individual ou em grupo, quando então você colhe imediatamente uma opinião avalizada de parcela da sociedade sobre os seus problemas. Ao mesmo tempo já se consola, pois imediatamente é apresentada a jurisprudência de muitos casos semelhantes ao seu, quando então, a amiga cliente ode perceber que não está sozinha. E aprende a não reclamar, pois também encontrará casos piores que o seu.
            Se você precisa levar algum tema ao conhecimento público basta procurar a sua manicure. Os assuntos se propagam com uma velocidade incrível e você se poupa de um longo e dispendioso planejamento de mídia. E como as pessoas querem ser lembradas, nada melhor do que ser parte de uma boa fofoca. Fofoca sim, pois na medida em que a notícia diminui a fofoca somente aumenta.
            Para nós homens também será no salão o melhor lugar para paquerar, lá estarão mulheres de todas as maneiras e para todos os gostos, como você jamais encontrará em nenhuma outra balada. Loiras, ruivas, morenas, mulatas, todas no salão mais próximo da sua casa aguardando por você.
            Dizer que salão é perda de tempo e dinheiro é uma tolice de quem desconhece o observatório humano que se passa ali dentro. Hoje eu sei disso e me desculpo formalmente. Não há melhor programa durante a semana. Amigo leitor, saia da poltrona, pegue seus bobs e vamos todos para o salão interagir...

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