quarta-feira, 14 de maio de 2014

SEMEANDO ESTRELAS


            Sempre me fascinaram as estrelas. Talvez por sina. Afinal, sou Natal dos Reis. E talvez a sina dos reis do oriente tenha sido buscar a estrela que mostrava o caminho até Deus. Num mundo cada vez mais assombrado pelo excesso de verdades, talvez a verdade mais confiável seja aquela que encontramos nas estrelas.

            A vida é uma longa jornada a busca das estrelas da nossa alma. Todos queremos encontrar as estrelas que nos mostrem o trabalho certo, a parceira ideal, os caminhos capazes de nos fazer brilhar e sermos felizes. Assim como os Reis Magos queremos estrelas que nos conduzam até aquilo que de mais precioso pode existir e nos faça compreender e enxergar o mundo com olhos diferentes.

            Caminhar pelos desertos a busca da nossa estrela é mais do que opção, é o nosso destino. O problema é quando céus nublados nos impedem de ver nossa estrela. Nessa hora nos guiaremos pelo que? O pior de tudo é que nós mesmos nublamos o nosso céu. Nos desviamos do caminho da nossa estrela. Sabemos para o que fomos talhados e preferimos fazer outra coisa. Escolhemos caminhar com quem nem se importa com a nossa estrela, achando que seu brilho próprio deve nos bastar.

            Nublamos nosso céu com amigos que não são tão amigos assim. Com brigas que não valem a pena. Com atitudes que não acrescentam nada a nossa vida. Com empregos sem estímulo emocional. Com o egoísmo quando não entendemos que uma estrela feliz precisa de uma constelação. Essas bobagens todas vão afastando nossa estrela do horizonte. Vão enchendo nosso caminho de nuvens e escuridão que nos fazem perder o caminho. Aquele que vive amargurado e só vê o mundo com olhos negativos é uma estrela ameaçada de extinção.

            Para encontrarmos a nossa estrela é preciso também semear estrelas. É preciso tentar brilhar no caminho daqueles que encontramos em nossa jornada, mas mais do que isso é preciso ter a grandeza de fazer essas pessoas também brilharem. As estrelas não tem luz própria ou são luminosas, elas são iluminadas e o bom Deus manda muita luz para todas as suas estrelas.

            Reflita essa luz para todos aqueles que precisam de você. Ajude as outras pessoas a brilharem. O caminho pode ser longo mas certamente será mais feliz e menos solitário em uma grande constelação. Para encontrar a sua estrela semeie estrelas por onde passa...

QUEM NOS PROTEGERÁ DA BONDADE DOS BONS?


            Acho que ando meio assustado. Leio algumas notícias e fico achando que é alguma piada. “Mulher é morta por populares depois de boatos de que ela praticava bruxaria”. Li e não entendi. Depois tornei a ler. Fui então buscar um calendário, sou muito desligado com datas. Mas estava lá: 2014. Uma mulher morta no meio da rua por boatos de bruxaria em 2014? Seria um “remake” da inquisição?

            Algum de nós está livre de uma situação absurda dessas? Quem será a próxima vítima? As redes sociais tem demonstrado uma vocação enorme para criar santos e demônios. Pessoas são aclamadas por frases geniais que nunca foram ditas e reputações (e nesse exemplo, vida) são destruídas por fatos que nunca ocorreram.  Ao que parece ninguém está disposto a fazer a mínima pesquisa de veracidade antes de condenar ou absolver quem quer que seja.

            O problema não são os maus. Deles pelo menos sabemos o que esperar e a nosso modo vamos nos defendendo. Mas as mesmas pessoas que postam flores, mensagens de amor e frequentam igreja aos finais de semana pregam violência com a mesma naturalidade. A violência vai se tornando, na visão desses bons cidadãos, solução pra tudo. E assim em uma guerra de olho por olho e dente por dente só conseguimos uma legião de banguelas, caolhos e cegos para os verdadeiros problemas.

            Não foram os maus que assinaram a mulher no Guarujá, foram os bons. São os bons que toleram desigualdade social em que alguns tem privilégio a vida toda e odeiam quando outros recebem qualquer benefício de compensação. Os bons odeiam aqueles que matam e acha que essas pessoas devem ser mortas. Os bons são paladinos da ética e da decência, salvo quando acham que merecem furar a fila para alguma situação. Os bons acham que todos os políticos são corruptos, mas nunca gastam uma hora da sua semana (ou do seu mês, ou do seu ano) com a comunidade tentando construir algo melhor.

            Estou assustado. Estou começando a ficar com mais medo dos bons do que dos maus.  Dos maus a gente vai se defendendo como pode, mas como nos defenderemos dos bons? É muito justiceiro para pouca justiça concreta. É muita gente achando que tem a verdade em um mundo tão cheio de dúvidas. Quando ouço alguém falando “Tenho certeza que...” ou “a solução para isso indiscutivelmente é ...”, logo penso: aí vai mais um bom (ou ditador) e sinto medo dele...

quinta-feira, 17 de abril de 2014

PÁSCOA SAGRADA


            Muito da mística já se perdeu, mas semana santa ainda é um tempo de rememorarmos a nossa fragilidade humana. A paixão, morte e ressurreição do Cristo nos levam a profunda reflexão de que a cruz é o caminho percorrido até a vida nova. Não faz tempo e a semana santa era vivida de maneira muito intensa. Um silêncio reverencial tomava conta das cidades na sexta feira da paixão. As igrejas desnudadas com suas imagens cobertas iam introduzindo o clima para narrar a historia de um povo que crucificou seu Deus.

            O mesmo Deus que era aclamado dias antes quando entrava triunfalmente em Jerusalém é preterido e condenado por seu povo. É perseguido, julgado e morto pelos seus e se mostra tão humano. Sente medo, sofre, chora, reza e pede compaixão. Um Deus encalacrado da nossa humanidade e das nossas paixões. Um Deus traído pelos amigos e colocado à própria sorte.

            Quantos calvários existem na nossa vida? Quantas cruzes carregamos sem compreender o motivo? Na paixão do Cristo refletimos quão ilusória a impressão de poder, popularidade superioridade. Quantas vezes quem te aclama e te aplaude é a mesma pessoa que depois quer crucificá-lo? Quantas vezes a mesma boca que nos sorri é aquela que é usada para te difamar e te destruir?

            Por que parece tão custoso compreender a mística do lava-pés em que é necessário servir com humildade para se obter autoridade? Afinal somos que tipo de gente, que lava os pés dos outros ou que espera ser servido o tempo todo?

            Que possamos ter o dom e a graça de compreender a nossa fragilidade e de carregar cada um a sua cruz (e cada um sabe a cruz que leva no coração) como um calvário para ressurreição.

            Que o mistério da páscoa ressuscite a fé a esperança que possam andar apagadas dentro do nosso peito. Que nos desperte para sermos a cada dia pessoas melhores, com defeitos sim, mas que buscam estar mais perto de um reino de justiça. Que consigamos a cada dia alcançar a graça de saber perdoar e ter misericórdia com quem precisa. Prezados leitores, desejo de todo coração para vocês e suas famílias uma feliz e santa páscoa... 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOCORRO! FIZ 30 ANOS.


             Não adianta mais relutar. Não tem jeito de esconder. Eles chegaram...  meus 30 anos estão batendo a porta e trazendo consigo uma ruga na testa e três ou quatro fios de cabelo branco. Cheguei a recontar na mão a minha idade pensando que pudesse ser algum erro, uma das minhas muitas trapalhadas com contas, mas dessa vez eu estava certo, eram 30 mesmo.

Olhei no espelho e senti certa gravidade na minha expressão. Percebi uma dor nas costas, que uso os óculos com maior frequência e que meu metabolismo já não é mais tão acelerado quanto antes. Virei um Balzac às avessas, com o peso dos anos, mas sem a exuberância que só as mulheres têm aos trinta anos.

Pensei em fazer uma festinha, mas lembrei que já não gosto tanto de festinhas. Lembrei que com vinte eu esperava ansioso pelas coisas, hoje espero dormindo. E que dormir é a mesma coisa que faço uma hora da madrugada de sábado. Mas também percebi que me importo muito menos com a opinião dos outros a meu respeito e que finalmente aprendi que perder também faz parte da vida.

Affonso Romano de Sant’Anna diz que até os trinta anos nós emitimos promissórias e que daqui para frente é o momento de começar a pagá-las. Um amigo me dizia que já tenho alma de trinta desde os vinte. O que me deixa ainda mais pensativo, pois agora seriam quarenta.

Eu poderia desmistificar e dizer que não muda nada. Mas o fato é que já preciso pensar para responder a idade e que já me peguei fazendo as contas da aposentadoria. Recordo que tinha pressa para chegar aos sete, dez, quinze, dezoito e vinte um. Essa pressa não existe mais. Hoje não deslizo mais no espaço, vivo no tempo.

Sonhos feitos, desfeitos, realizados, adiados, e eu descubro que sonhos vêm e vão. Que pessoas vêm e vão, e que umas poucas e boas ficam para sempre, ainda que ausentes. Já não amo porque tenho urgência, amo por amar. Rezo para agradecer e acho graça de alguns dramas do passado.

Quando eu tinha quinze anos me imaginava aos trinta e vejo que é tudo tão diferente. Gosto dessa pequena dose de maturidade que me ensinou a sepultar mágoas e tolerar cara feia. Queria ter descoberto essas coisas antes, mas sei que estou no lucro porque muitos nunca descobrem. E assim, amigos leitores, a gente segue escrevendo e inventando histórias nesse livro curioso que é a vida...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

EU LAMBO A TAMPA DO IOGURTE

            Eu lambo a tampa do iogurte. Já tentei evitar, mas é mais forte que eu. Posso até não comer todo o potinho e jogar o resto fora, mas não resisto àquele restinho que ficou na tampa. No fundo a gente é feito também de um monte de manias esdrúxulas. Quem não tiver as suas que atire o primeiro potinho de Danone.
            Posso passar calor e até precisar ligar o ar condicionado, mas nunca deixo de me cobrir quando durmo. Cheiro os livros antes de ler e penso que isso me diz muito sobre a qualidade desse livro. Dou uma tossidinha ao sair do banho e tenho vontade de declarar guerra a quem aperta a pasta de dente pelo meio.
            Mania, cada louco tem a sua. E realmente é de se duvidar dos limites entre uma mania estranha e a loucura. Tenho um amigo que a todo momento conta os dedos das mãos. Não é possível que ele acredite que algum vai sumir de uma hora para outra. Mas não é loucura, é mania, pelo menos assim ele garante. Imagino o desespero para saber quantos dedos tem no pé que fica fechado no sapato.
            Com as nossas manias a gente se vira, suportar as manias alheias é que é dose. Não suporto quem tem mania de deixar as coisas no plástico para parecer novo. Pelo amor de Deus, ficar aquele plástico encardido e as coisas cheias de etiqueta. Tem sentido uma coisa dessas? Se o negócio é para usar, use sem medo, depois quando não prestar mais a gente vê o que faz.
            Tem mania de secar as coisas atrás da geladeira. Mania de guardar cueca velha para passar cera no carro.  Mania de guardar refrigerante com um garfo no gargalo para não perder o gás (não é possível que isso funcione). Agora, nunca vi mania tão fia quanto ficar juntando resto de sabonete para fazer uma “bolotona”. Aí é demais.
            Tem dentista com mania de conversar enquanto você obviamente não pode responder. Médico tem mania de deixar a gente esperando. Advogado tem mania de falar complicado. Enfim, já que não tem jeito de escapar das manias é melhor a gente aprender a ser feliz com as que precisamos conviver...

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

FUJA QUE O CACHORRO LOUCO ESTÁ AÍ

            E vejam só, já estamos em agosto outra vez. Mês de cachorro louco como dizia minha avó. Enfim a gente se dá conta que o ano já está caminhando para o fim e ainda não fizemos nada daquilo a que nos propomos no começo do ano. O seu pique parece já estar terminado e você começa a pensar somente naquelas férias de dezembro. Calma, ainda é tempo de salvar o seu ano.
            Mas afinal de contas por que essa superstição de que o mês de agosto é azarento? Bem, muitas teorias para explicar isso. Dizem que os Romanos durante a antiguidade acreditavam que no oitavo mês do ano existia um dragão que cuspia fogo pelos céus. Posteriormente se descobriu que esse “fogo no céu” era a constelação de Leão que ficava visível nos céus do hemisfério norte naquela época do ano.
            Em Portugal as moças evitavam se casar em agosto, pois era a época em que saíam as navegações, que podiam levar meses e até anos, deixando as novas esposas sozinhas e sem lua de mel. Essa tradição veio para o Brasil e diz o dito popular que “casar em agosto, traz desgosto”.
            Foi em um mês de agosto que começaram a primeira e a segunda guerras mundiais. Foi em agosto que Hitler tornou-se líder da Alemanha. Foi em agosto que Hiroshima e Nagasaki foram destruídas. Foi em agosto de 1572 que Catarina de Médice ordenou o massacre de São Bartolomeu, matando milhares de pessoas na França.
            E o cachorro louco? Bem, diz-se que é mais comum as cachorras entrarem no cio nesse mês. Deixando os cachorros machos loucos e brigando pelas fêmeas. Bom, seja essa ou não a explicação certa, o fato é que a expressão pegou e é bom você ficar esperto e fugir do cachorro louco.
            Se você ficar sentado esperando o tempo passar logo é dezembro outra vez. Os supermercados já estão vendendo panetone. Então, antes de montar o pinheirinho relembre os seus compromissos para 2013 e corra atrás, antes que o cachorro louco pegue você...
 
 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A VIDA É UM TAMPO DE FOGÃO

         
            Algumas semanas atrás eu estava em casa lendo um livro quando ouvi um enorme estrondo vindo da cozinha. Corri para ver o que tinha acontecido e era o tampo de vidro do fogão que estourou porque liguei o forno com ele fechado, fazendo aquele barulhão. Fiquei morrendo de raiva, mas enfim não havia mais jeito, o tampo do meu fogão já era.
            A partir daí, eu que nunca tinha dado importância aquele tampo de vidro, não deixava de enxergar aquilo cada vez que entrava na cozinha. Nunca tinha sentido a beleza daquele tampo intacto, mas agora, com ele quebrado parecia que tinha perdido muita coisa.
            Foi aí que começou o meu martírio e essa crônica. Comecei a ligar para todos os lugares que eu acreditava que pudessem colocar um tampo novo no fogão, mas ninguém dava solução para o meu problema. O modelo havia saído de linha e o que as pessoas diziam era que mais fácil seria trocar o fogão de uma vez.
            Fiquei pensando em quanta coisa a gente passa a enxergar e dar valor só depois que perde. No fundo o tampo do fogão é igual tudo na vida, só damos valor na hora em que perdemos.
            Pensei também em como somos tantas vezes descartados por causa do que parecemos ser. Ou como julgamos o livro pela capa. O fogão continuava a ter a mesma função que sempre teve, mas por causa de um tampo transparente que não tinha importância nenhuma estava prestes a ser descartado.
            Queremos que a verdade seja mais bonita e mais enfeitada do que ela realmente é, quando a beleza da verdade reside justamente na imperfeição.
            Quantas pessoas e coisas você já descartou da sua vida por causa de um tampo transparente? Todos os dias corremos o risco de descartarmos ou sermos descartados por causa de um tampo que não revela a nossa verdadeira essência. Um lindo tampo transparente não quer dizer que o fogão é usado para fazer comida boa.
            A vida sob muitos aspectos pode ser um tampo de fogão quebrado. Quantas vezes uma briga besta, um ciúme bobo, ou uma discussão idiota promovem o calor que faz o tampo do fogão estourar?
            Ta na hora de aprendermos a dar valor no nosso fogão de várias bocas sem tampo sorrindo pra nós...

quinta-feira, 2 de maio de 2013

VIOLÊNCIA SE COMBATE COM EDUCAÇÃO, CULTURA E INCLUSÃO

            O amigo leitor já reparou como de tempos em tempos a sociedade parece viver uma onda de intolerância. Basta alguma tragédia midiática para reavivar velhas discussões.  De uns tempos para cá, uma das bolas da vez é mais uma vez a maioridade penal. Muita falação e pouca reflexão. Por incrível que pareça ainda tem muita gente por esse país afora acreditando que se pode mudar a realidade com leis.
            Não é segredo para ninguém que temos um sistema carcerário falido e ineficaz, incapaz de cumprir a sua função de ressocializar. Mas ao que parece isso não preocupa a sociedade, uma vez que esse problema não parece bater diretamente a nossa porta. Assim como não nos mobilizamos para que as escolas sejam melhores, desde que a escola do nosso filho seja boa. Não nos preocupamos com a violência na televisão. A miséria não é problema nosso, é dos políticos. E como se os políticos caíssem do céu e não fossem reflexo da nossa escolha de sociedade vamos levando a vida. Assim, a gente acha que o problema da mendicância se resolve não dando esmola, por que a médio prazo serviria para tirar da nossa vista o que não queremos ver. E a violência a gente acha que resolve com leis mais rigorosas.
            Já vi isso tantas vezes. É lei de crimes hediondos achando que isso iria acabar com os crimes graves. Lei de tóxico, achando que com a punição mais severa, o tráfico estaria contido. Lei de violência doméstica achando que isso resolveria o problema da violência contra a mulher. Ao grito da sociedade, leis novas vão surgindo e seguimos tratando o efeito sem tratar a causa. Alguns países do mundo adotam até pena de morte e adivinhem, isso não reduz a criminalidade, ao contrário gera sociedades mais violentas. Quanto mais violenta uma sociedade se dispõe ser por meio de suas leis e instituições inevitavelmente mais violência colherá.
            A mídia espalha a mentira de que adolescentes ficam impunes, quando na realidade muitas vezes recebem uma apenação maior do que a de adultos. O problema da violência juvenil ou não, nunca foi de legislação, sempre foi social e cultural. Vemos as famílias se despedaçarem e toleramos a tudo isso e queremos que de uma sociedade doente surjam jovens sadios.
            Queremos cadeia para os filhos dos outros, pois quando são os filhos da classe média que pisam na bola a gente acha que não é caso de prender. É assim que playboyzinho que usa drogas de ponta circula livremente pelas faculdades e são muito bem quistos. É assim que as mães protegem os filhos que chegam bêbados em casa no final da madrugada depois de fazerem sabe o que pela rua. É assim que a gente tolera racha, é assim que a gente suporta que nossos filhos se achem melhores que os outros e cometam bullyng (ou seja lá como se chama) contra qualquer um. Os pais aplaudem os filhos machos que pegam o carro para sair pegando as menininhas, e depois saírem contando vantagens e destruindo a moral de qualquer uma.  Agora se é o favelado que aponta uma arma para alguém esse tem que ser preso. Afinal de contas quem são o “eles” que devem ter a maioridade penal reduzida?
            A gente não vê movimento social para ajudar as famílias vítimas das drogas. A gente não vê movimentos de verdade pela cultura, pela educação, pela inclusão. Discursamos muito, fazemos muito pouco. Colocamos a culpa nos políticos e dormimos tranquilos. É mais conveniente para todo mundo eliminar os miseráveis do que as misérias que os produzem. Entre as muitas causas de violência no Brasil não se encontra a idade de responsabilização criminal. Por fim, entendo que de uma forma ou de outra a nossa Constituição não permite a redução, mas nem por isso consigo deixar de ficar incomodado com a discussão...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

BOBEIRA PEGA

           Não é só catapora, gripe suína e gonorreia que são transmissíveis, bobeira também pega. Não importa o quão séria seja uma pessoa, se ficar exposta a ambientes bobagentos se contagiará.  É muito interessante vermos o país todo contagiado por bordões de personagens que depois se incorporam ao vocabulário popular.

            É gente que é a cara da riqueza. É Luiza que vai para o Canadá. Jesus que apaga a luz. Não é brinquedo não, dizia Dona Jura. Ao que Ofélia preferia nem comentar. Enfim... cada mergulho é um flash. Mas é melhor só abrir a boca quando tem certeza, para não correr o risco de ouvir um “vem cá, eu te conheço?”.

            Tem muita lei que “não pega”, mas bobeira não passa uma. Advinha quem está falando? Perguntava o candidato, ao que ele mesmo respondia: “Sou eu o abestado! Enganei vocês, pensaram que era outra pessoa!” O resultado? Uma das maiores votações da história do país. Não pelas ideias, mas pela bobeira. Adoramos uma boa anedota, perdemos o amigo mais não a piada. Quer dizer, menos eu, que perco o amigo, perco a piada, perco dinheiro, só não perco peso.
 
            Foi assim que uma prostituta virou sucesso na venda de livros e se tornou tema de filme. Quanto mais bobeira, mais sucesso. É bobagem ver uma cantora errando o hino nacional? Mas o vídeo atraiu milhões de espectadores no Youtube. Política vira piada, O papa vira piada. Religião vira piada, tragédia vira piada. O Humor negro não deixa ninguém de fora e dá-se um jeitinho de sacanear todo mundo, pois como diria seu Ladir, sacanear é Maraaa.
 
            Mas deixando de lado os entretantos e indo direto aos finalmentes, é bom tomar cuidado por que bobeira pega. Nunca diga dessa água não beberei pois você corre o risco de se pegar cantando a plenos pulmões uma das belas canções de Mister Catra, ou falando para alguma garota, me cheira, me chama de Mon Bijou...
 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

É O GOSTO DA PESSOA

             A gente sofre mais se diverte. Esses dias liguei para uma prima que não podia me atender porque naquele momento iriam anunciar o vencedor de um “reality show” muito popular. Minha tia mais que depressa foi justificando “é o gosto da pessoa”. Na hora lembrei-me de uma personagem do Pedro Bismark que tinha esse bordão. Essa é uma verdade quase filosófica, para tudo se arruma gosto e quem goste, não importa o que seja. Pode testar. Quando você encontrar uma roupa bem feia numa loja, repare onde ela está e passe lá dias depois. Já não vai estar mais, porque tem quem goste, e se na verdade, é o gosto da pessoa, vai se fazer o que?
            É o gosto da pessoa comer jiló amargo e pimenta ardida. É o gosto da pessoa andar de gravata e camisa curta ou então vestir-se com roupas listradas dos pés a cabeça. Andar de carro com som estourando de alto ou então roncando motor, falar gritando no celular, se meter em conversa alheia, votar em partido de direita, puxar o saco, ficar fazendo pergunta na hora que a aula está terminando, não há o que se possa fazer, é tudo o gosto da pessoa. E olha, quando o gosto sai do íntimo não adianta discutir, não há argumento que convença.
            Se o sujeito deixa o cabelo crescer e joga de lado para tampar a careca, não se espante é assim mesmo, ele gosta. Tem gente que gosta de dar palpite em qualquer assunto, o tempo todo; gosto é gosto. Como bem diz minha avó “o que é de gosto é regalo da vida”. Mulher que gosta de homem canalha ou homem que gosta de mulher canalha, se for gosto... regalo da vida e ponto.
            Parece até brincadeira, mas entender e aceitar que as pessoas tem gostos diferentes dos nossos é uma verdade que pode lhe poupar muitos sofrimentos. Guerras já foram travadas por não se compreender o gosto alheio. Famílias inteiras destruídas porque não tinham a sabedoria de minha avó para compreender que o que é de gosto é regalo da vida. Não tem sentido algum ficar tentando fazer um masoquista se convencer de que levar chicotada é ruim ou tentar convencer alguém de cultura diferente que comer barata é nojento.
            Ser tolerante nunca foi uma coisa fácil, mas estou convencido de que é um dos caminhos para a paz. Até porque nos firmarmos como donos da verdade é o primeiro passo para o ridículo. Aceite que não da para mudar o mundo todo, então concentre suas forças para mudar só aquilo que valha a pena, ou que vá fazer de você uma pessoa melhor. Sim, eu sei que o cara da caminhonete com som alto sempre vai te incomodar, mas não precisa morrer por isso, é o gosto da pessoa...

domingo, 31 de março de 2013

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM

            Odeio quando alguém me diz: “posso ser sincera?”. Ninguém nunca é sincero pra falar coisa boa ou pra trazer uma nova esperança. Essa pergunta é o mesmo que dizer “se prepara pra levar porrada”. Não quero que seja sincera comigo. Pode mentir pode me enganar. Eu nunca te pedi sinceridade. Pedi amor.
            Abaixo esse negócio de sinceridade pra destruir os outros “educadamente”. É obvio que não gosto que falem mal de mim pelas minhas costas, mas gosto menos ainda quando falam na minha frente. Por que não experimenta de lado? Não quero sinceridade para dizer que eu estou feio ou que estou gordo. Não quero sinceridade que me diga que estou equivocado. Essas coisas todas a gente sabe ou descobre intuitivamente.
            Nunca acreditei de verdade nessa história de preferir uma verdade que faça chorar a uma mentira que faça sorrir. Que louco em sã consciência prefere isso? Quero as mentiras todas que me façam sorrir. Da realidade e dos choros eu cuido depois. Sinceras, quero só as mentiras. Ao contrário do que pode parecer, tenho grandes e graves dúvidas se as pessoas sinceras querem mesmo o nosso bem.
            Ah, não me dê sinceridade. Dê-me um livro de poesia. Conte-me como a lua fica mais bonita quando estou por perto. Fale que está me achando mais magro, que a roupa ficou bem, que eu fico bonito de gravata borboleta ou que lembro um ator de Hollywood. Guarde a sua sinceridade para os que têm urgência do amanhã. Eu tenho todo tempo do mundo para descobrir as coisas sozinho. Quero as mentiras triunfantes, prefiro os contos de fada no lugar das tragédias contemporâneas. Quero os amores e as sacanagens urbanas.
            Não tenho necessidade de entender. Já amei tantas coisas sem entender. Quero o seu sorriso mais doce, não a sua sinceridade. Quero a tua boca com batom vermelho. Quero sonhar, pois pra ficar acordado tenho o resto do dia...

segunda-feira, 25 de março de 2013

TUDO VALE A PENA?

          Topei me envolver e acabei sozinho. Apostei e perdi a aposta. Cantei, mas a voz não saiu. Fui experimentar jiló e acabei estragando o arroz. Acordei mais tarde e perdi o sono de noite. Fui honesto e tive que ver desonestos passarem a minha frente. Estendi a mão e ela ficou no ar. Sonhei e tive que me deparar com a realidade.   
          Na vida é inevitável, mais dia ou menos dia, perguntar se alguma coisa valeu a pena. Quando me formei jurei buscar a justiça onde quer que ela se encontre. Descobri que, como regra, ela não se encontra nos fóruns, nos gabinetes ou tampouco na mão de pomposas autoridades que não tem compromisso nenhum a não ser com o seu ego.
          É muita gente falando demais e passando maquiagem em excesso para esconder o próprio rosto. É muita gente condenando aquilo que apoia em segredo. Rindo em público para chorar escondido. Quem já não quis um abraço de uma pessoa e percebeu-a fingindo que não te viu. Quantas pessoas estavam ao seu lado nas horas boas e quantas mudaram de postura quando você mais precisava.
          Eu moro na mesma casa em que eu nasci, e embora não seja muito extrovertido, conheço mais ou menos a história de quase todo mundo do meu bairro. Essa semana meu pai me lembrou de dois senhores que moravam aqui e já faleceram, dois homens santos, desses com os quais às vezes a gente cruza na vida, um se chamava Sr. Luiz Ezaú e o outro Sr. Pedro Rezende. Ambos eram pessoas muito simples e possuíam a sabedoria que só surge da humildade. Os dois construíram famílias grandes alicerçadas nos valores do amor e do bom exemplo.
         Lembrar-me desses dois senhores essa semana ali trabalhando na igrejinha de São Francisco me fez perceber que a vida é muito maior que os dramas com os quais a gente se depara, e que de fato não precisa muito para ser feliz. Acho que passaram a vida sem grandes glórias ou reconhecimentos, mas isso não foi necessário para que hoje, anos depois de suas mortes, eu me lembrasse deles com carinho.
        Talvez, quem sabe, não seja mesmo tudo que valha a pena. Então, na medida do possível deixe pra lá aquilo que não vale. Faça com amor aquilo que tiver que fazer. Faça sexo com amor, política com amor, amizade com amor, trabalho com amor e tudo isso, além de ser mais natural, valerá muito a pena...