quarta-feira, 14 de maio de 2014

QUEM NOS PROTEGERÁ DA BONDADE DOS BONS?


            Acho que ando meio assustado. Leio algumas notícias e fico achando que é alguma piada. “Mulher é morta por populares depois de boatos de que ela praticava bruxaria”. Li e não entendi. Depois tornei a ler. Fui então buscar um calendário, sou muito desligado com datas. Mas estava lá: 2014. Uma mulher morta no meio da rua por boatos de bruxaria em 2014? Seria um “remake” da inquisição?

            Algum de nós está livre de uma situação absurda dessas? Quem será a próxima vítima? As redes sociais tem demonstrado uma vocação enorme para criar santos e demônios. Pessoas são aclamadas por frases geniais que nunca foram ditas e reputações (e nesse exemplo, vida) são destruídas por fatos que nunca ocorreram.  Ao que parece ninguém está disposto a fazer a mínima pesquisa de veracidade antes de condenar ou absolver quem quer que seja.

            O problema não são os maus. Deles pelo menos sabemos o que esperar e a nosso modo vamos nos defendendo. Mas as mesmas pessoas que postam flores, mensagens de amor e frequentam igreja aos finais de semana pregam violência com a mesma naturalidade. A violência vai se tornando, na visão desses bons cidadãos, solução pra tudo. E assim em uma guerra de olho por olho e dente por dente só conseguimos uma legião de banguelas, caolhos e cegos para os verdadeiros problemas.

            Não foram os maus que assinaram a mulher no Guarujá, foram os bons. São os bons que toleram desigualdade social em que alguns tem privilégio a vida toda e odeiam quando outros recebem qualquer benefício de compensação. Os bons odeiam aqueles que matam e acha que essas pessoas devem ser mortas. Os bons são paladinos da ética e da decência, salvo quando acham que merecem furar a fila para alguma situação. Os bons acham que todos os políticos são corruptos, mas nunca gastam uma hora da sua semana (ou do seu mês, ou do seu ano) com a comunidade tentando construir algo melhor.

            Estou assustado. Estou começando a ficar com mais medo dos bons do que dos maus.  Dos maus a gente vai se defendendo como pode, mas como nos defenderemos dos bons? É muito justiceiro para pouca justiça concreta. É muita gente achando que tem a verdade em um mundo tão cheio de dúvidas. Quando ouço alguém falando “Tenho certeza que...” ou “a solução para isso indiscutivelmente é ...”, logo penso: aí vai mais um bom (ou ditador) e sinto medo dele...

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