Acho
que ando meio assustado. Leio algumas notícias e fico achando que é alguma
piada. “Mulher é morta por populares depois de boatos de que ela praticava
bruxaria”. Li e não entendi. Depois tornei a ler. Fui então buscar um
calendário, sou muito desligado com datas. Mas estava lá: 2014. Uma mulher
morta no meio da rua por boatos de bruxaria em 2014? Seria um “remake” da
inquisição?
Algum
de nós está livre de uma situação absurda dessas? Quem será a próxima vítima?
As redes sociais tem demonstrado uma vocação enorme para criar santos e
demônios. Pessoas são aclamadas por frases geniais que nunca foram ditas e
reputações (e nesse exemplo, vida) são destruídas por fatos que nunca
ocorreram. Ao que parece ninguém está
disposto a fazer a mínima pesquisa de veracidade antes de condenar ou absolver
quem quer que seja.
O
problema não são os maus. Deles pelo menos sabemos o que esperar e a nosso modo
vamos nos defendendo. Mas as mesmas pessoas que postam flores, mensagens de
amor e frequentam igreja aos finais de semana pregam violência com a mesma
naturalidade. A violência vai se tornando, na visão desses bons cidadãos,
solução pra tudo. E assim em uma guerra de olho por olho e dente por dente só
conseguimos uma legião de banguelas, caolhos e cegos para os verdadeiros
problemas.
Não
foram os maus que assinaram a mulher no Guarujá, foram os bons. São os bons que
toleram desigualdade social em que alguns tem privilégio a vida toda e odeiam
quando outros recebem qualquer benefício de compensação. Os bons odeiam aqueles
que matam e acha que essas pessoas devem ser mortas. Os bons são paladinos da
ética e da decência, salvo quando acham que merecem furar a fila para alguma
situação. Os bons acham que todos os políticos são corruptos, mas nunca gastam
uma hora da sua semana (ou do seu mês, ou do seu ano) com a comunidade tentando
construir algo melhor.
Estou
assustado. Estou começando a ficar com mais medo dos bons do que dos maus. Dos maus a gente vai se defendendo como pode,
mas como nos defenderemos dos bons? É muito justiceiro para pouca justiça
concreta. É muita gente achando que tem a verdade em um mundo tão cheio de
dúvidas. Quando ouço alguém falando “Tenho certeza que...” ou “a solução para
isso indiscutivelmente é ...”, logo penso: aí vai mais um bom (ou ditador) e
sinto medo dele...
Nenhum comentário:
Postar um comentário