quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOCORRO! FIZ 30 ANOS.


             Não adianta mais relutar. Não tem jeito de esconder. Eles chegaram...  meus 30 anos estão batendo a porta e trazendo consigo uma ruga na testa e três ou quatro fios de cabelo branco. Cheguei a recontar na mão a minha idade pensando que pudesse ser algum erro, uma das minhas muitas trapalhadas com contas, mas dessa vez eu estava certo, eram 30 mesmo.

Olhei no espelho e senti certa gravidade na minha expressão. Percebi uma dor nas costas, que uso os óculos com maior frequência e que meu metabolismo já não é mais tão acelerado quanto antes. Virei um Balzac às avessas, com o peso dos anos, mas sem a exuberância que só as mulheres têm aos trinta anos.

Pensei em fazer uma festinha, mas lembrei que já não gosto tanto de festinhas. Lembrei que com vinte eu esperava ansioso pelas coisas, hoje espero dormindo. E que dormir é a mesma coisa que faço uma hora da madrugada de sábado. Mas também percebi que me importo muito menos com a opinião dos outros a meu respeito e que finalmente aprendi que perder também faz parte da vida.

Affonso Romano de Sant’Anna diz que até os trinta anos nós emitimos promissórias e que daqui para frente é o momento de começar a pagá-las. Um amigo me dizia que já tenho alma de trinta desde os vinte. O que me deixa ainda mais pensativo, pois agora seriam quarenta.

Eu poderia desmistificar e dizer que não muda nada. Mas o fato é que já preciso pensar para responder a idade e que já me peguei fazendo as contas da aposentadoria. Recordo que tinha pressa para chegar aos sete, dez, quinze, dezoito e vinte um. Essa pressa não existe mais. Hoje não deslizo mais no espaço, vivo no tempo.

Sonhos feitos, desfeitos, realizados, adiados, e eu descubro que sonhos vêm e vão. Que pessoas vêm e vão, e que umas poucas e boas ficam para sempre, ainda que ausentes. Já não amo porque tenho urgência, amo por amar. Rezo para agradecer e acho graça de alguns dramas do passado.

Quando eu tinha quinze anos me imaginava aos trinta e vejo que é tudo tão diferente. Gosto dessa pequena dose de maturidade que me ensinou a sepultar mágoas e tolerar cara feia. Queria ter descoberto essas coisas antes, mas sei que estou no lucro porque muitos nunca descobrem. E assim, amigos leitores, a gente segue escrevendo e inventando histórias nesse livro curioso que é a vida...

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