quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

GUAXUPÉ, CIENTIFICAMENTE

            Guaxupé, centenária cidade localizada no sul de Minas Gerais se diferencia inicialmente das outras cidades que não são mineiras. Entre os aspectos meteorológicos, os dias são divididos entre aqueles que chovem e aqueles em que não cai chuva alguma. Também o clima pode se apresentar entre períodos de frio, períodos de calor e períodos em que não faz frio nem calor.
            Culturamente destacam-se as festas, embora deva se admitir que existam pessoas que não façam festa alguma. As manifestações culturais por vezes se manifestam e por vezes não. No tocante as folias de reis o interessante é que há quem goste e quem não goste, bem como da expoagro, da festa das orquídeas e do carnaval.
            A cidade apresenta áreas que são de montanha e áreas de planície, sendo notória a preferência popular de caminhar nas áreas de planície e cumprir penitências nas áreas de montanha. Muitas subidas existentes por toda a cidade podem tornar-se descidas conforme o ponto de vista do observador.
            A flora divide-se entre as regiões floridas e as regiões sem flores. Há quem possua animais e lhes deem um nome, que os possua e não lhes dão nome algum e aqueles que não os possuam.
            Na política historicamente se encontram executivos que gostam de legislar, legislativos que querem executar e judiciário que goste de legislar e executar, sendo muito comum que os três poderes façam cada um seus julgamentos próprios. Esses poderes em parte do tempo convivem harmonicamente e em parte do tempo não.
            A população pode ser conhecida pela gentileza ou ausência de gentileza, dependendo de cada pessoa. Divide-se economicamente em três classes sociais, rica, média e pobre, sendo característica dessa divisão que a classe média possua menos bens que a classe rica, mas que possua mais recursos que a classe pobre. Pertinente destacar que entre os moradores existem os que são nascidos aqui e os que vieram para cá.
            Religiosamente a cidade possui diversas religiões com a primazia do único caminho da salvação eterna. Também possui ateus e agnósticos.
            O comércio se destaca pela característica de vender, embora não se possa negar que gostaria de vender mais. Também os compradores que compram no comércio gostariam de comprar mais, todavia impossibilidades financeiras impedem a conjunção plena de ambas as vontades...

CADA MACACO NO SEU GALHO

             Aconteceu uma coisa muito perigosa aqui em casa. Existiam paredes para serem pintadas e existia uma lata de tinta. No meio da necessidade e da possibilidade estava eu, e não deu outra, resolvi pintar a parte do muro e da garagem que precisavam ser pintados.
            Muito sabidamente, comprei pincéis, brochas, alongadores, massa corrida, hipermeabilizador de parede, água raz, bandeja de pintura, enfim, equipamentos para pintar uma catedral. Coloquei boné para proteger do sol, roupas que julguei adequadas e estava pronto para o serviço.
            Foi então que tudo começou a dar errado. Na diluição da tinta. A água raz parecia que não se misturar com a tinta, muito menos servir para diluí-la uma ficou de um lado e a outra do outro. Pensei que a solução óbvia para o problema fosse usar a tinta sem diluição. Não deu certo. Ficava tudo e com nacos de tinta na parede. Passei para o plano B, diluir com água. Foi pior ainda, na raiva acho que acabei colocando muita água exigindo, assim, umas oito ou nove demãos para que a parede ficasse da cor desejada.
            Suando em bicas, eu passava o rolo na parede e a tinta rala de água insistia em escorrer até o chão. Uma demão e nada, duas demãos e nada, minha roupa podia ser torcida de tanto suor. O boné eu já tinha jogado longe de calor. A pintura parecia muito aquelas que fazia no jardim de infância.
            Foram mais várias demãos, suor e sujeira chão afora, até que me desse por satisfeito. Mas enfim estava lá, a parede pintada e economizando pintor. Foi então que São Pedro não perdoou minha avareza e mandou do céu uma chuva boa e forte que em cinco ou seis minutos conseguiu acabar com tudo.
            Moral da história, cada macaco no seu galho. Como pintor, sou mesmo é advogado e não quero mais saber de pintar nada. Só o que gastei de materiais e tinta perdida dava para ter pago várias vezes um pintor profissional e me livrado desse estresse. O barato saiu caro. Agora ainda resta o chão para limpar e a história para contar...

MINHAS SINCERAS DESCULPAS 2

            Mais uma vez preciso usar esse espaço para me desculpar. Desta vez é com as mulheres e suas manicures. Ao observar a rotina das mulheres que me circundam sempre achei que se perdia muito tempo e dinheiro com uma preocupação que até então eu considerava secundária: fazer as unhas. Me parecia sinceramente que se tratava de um capricho da vaidade feminina que até certo ponto ainda parece tão misteriosa a nós homens. Ignorava eu, pobre ser limitado, a extensa contabilidade de benefícios filosóficos, sociológicos e psicológicos que se desfruta em uma audiência com a sua manicure de confiança. Senhoras e manicures: minhas sinceras desculpas.
            Uma unha encravada me levou até a profissional das unhas que dá expediente em um salão não muito longe da minha casa. A primeira reação do salão com a minha entrada foi um silencio sepulcral, como se eu estivesse violando a área restrita de algum templo religioso. Todavia, aos poucos o salão foi recuperando sua forma natural e as conversas e debates combativos retornavam ao ritmo frenético.
            O hábito de frequentar o salão foi ficando claro para mim. Não se trata de um mero compromisso estético, mas sim de uma profunda reunião terapêutica, um valioso exercício de convivência social, uma mesa redonda de debates dos temas que não são tratados no jornal das oito.
            A manicure oferece a mulher uma coisa que nós temos dificuldades para oferecer: ela escuta até o fim. Não importa o que seja. Ela escuta. Enquanto nós homens interrompemos, oferecemos soluções antes de saber do problema, fingimos interesse, a manicure houve tudo. Igual a um confessionário, ali não existem assuntos proibidos, temas cerceados, debates impossíveis. A manicure houve tudo e não te julga, não te condena, não te discrimina.
            Imaginem o custo benefício de uma sessão dessas. Quanto se economiza com psicólogos e psicanalistas, e ainda de brinde, sai com as unhas pintadas. A terapia pode ser individual ou em grupo, quando então você colhe imediatamente uma opinião avalizada de parcela da sociedade sobre os seus problemas. Ao mesmo tempo já se consola, pois imediatamente é apresentada a jurisprudência de muitos casos semelhantes ao seu, quando então, a amiga cliente ode perceber que não está sozinha. E aprende a não reclamar, pois também encontrará casos piores que o seu.
            Se você precisa levar algum tema ao conhecimento público basta procurar a sua manicure. Os assuntos se propagam com uma velocidade incrível e você se poupa de um longo e dispendioso planejamento de mídia. E como as pessoas querem ser lembradas, nada melhor do que ser parte de uma boa fofoca. Fofoca sim, pois na medida em que a notícia diminui a fofoca somente aumenta.
            Para nós homens também será no salão o melhor lugar para paquerar, lá estarão mulheres de todas as maneiras e para todos os gostos, como você jamais encontrará em nenhuma outra balada. Loiras, ruivas, morenas, mulatas, todas no salão mais próximo da sua casa aguardando por você.
            Dizer que salão é perda de tempo e dinheiro é uma tolice de quem desconhece o observatório humano que se passa ali dentro. Hoje eu sei disso e me desculpo formalmente. Não há melhor programa durante a semana. Amigo leitor, saia da poltrona, pegue seus bobs e vamos todos para o salão interagir...

É CUECA DE MACHO


             Essa semana fui a Monte Belo resolver uns problemas. Na volta, como ainda tinha uma hora e meia até o próximo compromisso, resolvi entrar em Juruaia e ver o movimento da cidade já que fazia muito tempo que não passava por lá. Fiquei estupefato com os verdadeiros templos da lingerie que lá estavam edificados. Ruas e avenidas tomadas por lojas e confecções para todos os gostos e fetiches possíveis.
            Talvez a antropologia, no futuro, se dedique a estudar a diferença que homens e mulheres dão às roupas intimas. Bem garante o ditado que se um homem está preocupado com suas cuecas é por que tem amante. Geralmente não sabemos sequer qual cueca estamos usando até nos depararmos com ela na hora do banho ou na hora de vestir depois da transa. Diferente da mulher que parece escolher meticulosamente qual peça usar. Se marca, se não marca se parece ou tantas outras teorias.
          Para que um homem se desfaça de sua cueca a situação de calamidade deve geralmente ser constatada por uma terceira. Vamos amontoando cuecas na gaveta desde a época em que éramos crianças, se bobear, será possível encontrar fraldas ou cueiros nesta gaveta. Cuecas furadas, puídas, mal conservadas, chiques e bregas, novas e velhas repartem o espaço sagrado da gaveta masculina.
            Comprar cuecas é uma tarefa que não agrada a nós homens e que fazemos para nos desincumbir da missão. De preferência, que venha em um pacote com meia dúzia. Experimentar uma cueca em um provador ou mesmo levar para casa para definir qualquer modelo são pecados mortais para o homem que, quando muito, se arriscará a decidir o tamanho e a cor. Homem nunca vai dar falta de uma cueca desaparecida, muito menos enlouquecer por causa disso.
             Gaveta de mulheres e homens nada tem em comum. A mulher dobra com cuidado. Põe bojo dentro de bojo. Passa e dobra com as mais variadas técnicas e sutilezas. A cueca é praticamente jogada na gaveta sem distinção ou maiores homenagens. Um tempo atrás fui em uma loja da cidade comprar cueca. A vendedora solícita enquanto tentava me vender uma camisa percebeu que eu havia pego um pacote com duas cuecas e foi logo tentando me desestimular, “essas são muito simplinhas”, não hesitei, “é cueca de macho”.
            A cueca é símbolo da simplicidade masculina. Aliás, de modo geral, homem é simples para se vestir. Homem não fica em dúvida de qual conjunto vestir e só volta pra trocar de roupa por problemas técnicos. Ou não serve ou a camisa está sem botão ou o zíper está estourado. Nunca nos apavora a possibilidade de outro homem estar vestido igual. Achamos até muito divertido. Diga-me amigo leitor se é ou não digno de estudo a diferenças entre os sexos à luz da cueca?  Preste atenção e verá que a sua roupa íntima pode ter muito de você para contar...