quarta-feira, 14 de maio de 2014

SEMEANDO ESTRELAS


            Sempre me fascinaram as estrelas. Talvez por sina. Afinal, sou Natal dos Reis. E talvez a sina dos reis do oriente tenha sido buscar a estrela que mostrava o caminho até Deus. Num mundo cada vez mais assombrado pelo excesso de verdades, talvez a verdade mais confiável seja aquela que encontramos nas estrelas.

            A vida é uma longa jornada a busca das estrelas da nossa alma. Todos queremos encontrar as estrelas que nos mostrem o trabalho certo, a parceira ideal, os caminhos capazes de nos fazer brilhar e sermos felizes. Assim como os Reis Magos queremos estrelas que nos conduzam até aquilo que de mais precioso pode existir e nos faça compreender e enxergar o mundo com olhos diferentes.

            Caminhar pelos desertos a busca da nossa estrela é mais do que opção, é o nosso destino. O problema é quando céus nublados nos impedem de ver nossa estrela. Nessa hora nos guiaremos pelo que? O pior de tudo é que nós mesmos nublamos o nosso céu. Nos desviamos do caminho da nossa estrela. Sabemos para o que fomos talhados e preferimos fazer outra coisa. Escolhemos caminhar com quem nem se importa com a nossa estrela, achando que seu brilho próprio deve nos bastar.

            Nublamos nosso céu com amigos que não são tão amigos assim. Com brigas que não valem a pena. Com atitudes que não acrescentam nada a nossa vida. Com empregos sem estímulo emocional. Com o egoísmo quando não entendemos que uma estrela feliz precisa de uma constelação. Essas bobagens todas vão afastando nossa estrela do horizonte. Vão enchendo nosso caminho de nuvens e escuridão que nos fazem perder o caminho. Aquele que vive amargurado e só vê o mundo com olhos negativos é uma estrela ameaçada de extinção.

            Para encontrarmos a nossa estrela é preciso também semear estrelas. É preciso tentar brilhar no caminho daqueles que encontramos em nossa jornada, mas mais do que isso é preciso ter a grandeza de fazer essas pessoas também brilharem. As estrelas não tem luz própria ou são luminosas, elas são iluminadas e o bom Deus manda muita luz para todas as suas estrelas.

            Reflita essa luz para todos aqueles que precisam de você. Ajude as outras pessoas a brilharem. O caminho pode ser longo mas certamente será mais feliz e menos solitário em uma grande constelação. Para encontrar a sua estrela semeie estrelas por onde passa...

QUEM NOS PROTEGERÁ DA BONDADE DOS BONS?


            Acho que ando meio assustado. Leio algumas notícias e fico achando que é alguma piada. “Mulher é morta por populares depois de boatos de que ela praticava bruxaria”. Li e não entendi. Depois tornei a ler. Fui então buscar um calendário, sou muito desligado com datas. Mas estava lá: 2014. Uma mulher morta no meio da rua por boatos de bruxaria em 2014? Seria um “remake” da inquisição?

            Algum de nós está livre de uma situação absurda dessas? Quem será a próxima vítima? As redes sociais tem demonstrado uma vocação enorme para criar santos e demônios. Pessoas são aclamadas por frases geniais que nunca foram ditas e reputações (e nesse exemplo, vida) são destruídas por fatos que nunca ocorreram.  Ao que parece ninguém está disposto a fazer a mínima pesquisa de veracidade antes de condenar ou absolver quem quer que seja.

            O problema não são os maus. Deles pelo menos sabemos o que esperar e a nosso modo vamos nos defendendo. Mas as mesmas pessoas que postam flores, mensagens de amor e frequentam igreja aos finais de semana pregam violência com a mesma naturalidade. A violência vai se tornando, na visão desses bons cidadãos, solução pra tudo. E assim em uma guerra de olho por olho e dente por dente só conseguimos uma legião de banguelas, caolhos e cegos para os verdadeiros problemas.

            Não foram os maus que assinaram a mulher no Guarujá, foram os bons. São os bons que toleram desigualdade social em que alguns tem privilégio a vida toda e odeiam quando outros recebem qualquer benefício de compensação. Os bons odeiam aqueles que matam e acha que essas pessoas devem ser mortas. Os bons são paladinos da ética e da decência, salvo quando acham que merecem furar a fila para alguma situação. Os bons acham que todos os políticos são corruptos, mas nunca gastam uma hora da sua semana (ou do seu mês, ou do seu ano) com a comunidade tentando construir algo melhor.

            Estou assustado. Estou começando a ficar com mais medo dos bons do que dos maus.  Dos maus a gente vai se defendendo como pode, mas como nos defenderemos dos bons? É muito justiceiro para pouca justiça concreta. É muita gente achando que tem a verdade em um mundo tão cheio de dúvidas. Quando ouço alguém falando “Tenho certeza que...” ou “a solução para isso indiscutivelmente é ...”, logo penso: aí vai mais um bom (ou ditador) e sinto medo dele...

quinta-feira, 17 de abril de 2014

PÁSCOA SAGRADA


            Muito da mística já se perdeu, mas semana santa ainda é um tempo de rememorarmos a nossa fragilidade humana. A paixão, morte e ressurreição do Cristo nos levam a profunda reflexão de que a cruz é o caminho percorrido até a vida nova. Não faz tempo e a semana santa era vivida de maneira muito intensa. Um silêncio reverencial tomava conta das cidades na sexta feira da paixão. As igrejas desnudadas com suas imagens cobertas iam introduzindo o clima para narrar a historia de um povo que crucificou seu Deus.

            O mesmo Deus que era aclamado dias antes quando entrava triunfalmente em Jerusalém é preterido e condenado por seu povo. É perseguido, julgado e morto pelos seus e se mostra tão humano. Sente medo, sofre, chora, reza e pede compaixão. Um Deus encalacrado da nossa humanidade e das nossas paixões. Um Deus traído pelos amigos e colocado à própria sorte.

            Quantos calvários existem na nossa vida? Quantas cruzes carregamos sem compreender o motivo? Na paixão do Cristo refletimos quão ilusória a impressão de poder, popularidade superioridade. Quantas vezes quem te aclama e te aplaude é a mesma pessoa que depois quer crucificá-lo? Quantas vezes a mesma boca que nos sorri é aquela que é usada para te difamar e te destruir?

            Por que parece tão custoso compreender a mística do lava-pés em que é necessário servir com humildade para se obter autoridade? Afinal somos que tipo de gente, que lava os pés dos outros ou que espera ser servido o tempo todo?

            Que possamos ter o dom e a graça de compreender a nossa fragilidade e de carregar cada um a sua cruz (e cada um sabe a cruz que leva no coração) como um calvário para ressurreição.

            Que o mistério da páscoa ressuscite a fé a esperança que possam andar apagadas dentro do nosso peito. Que nos desperte para sermos a cada dia pessoas melhores, com defeitos sim, mas que buscam estar mais perto de um reino de justiça. Que consigamos a cada dia alcançar a graça de saber perdoar e ter misericórdia com quem precisa. Prezados leitores, desejo de todo coração para vocês e suas famílias uma feliz e santa páscoa... 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOCORRO! FIZ 30 ANOS.


             Não adianta mais relutar. Não tem jeito de esconder. Eles chegaram...  meus 30 anos estão batendo a porta e trazendo consigo uma ruga na testa e três ou quatro fios de cabelo branco. Cheguei a recontar na mão a minha idade pensando que pudesse ser algum erro, uma das minhas muitas trapalhadas com contas, mas dessa vez eu estava certo, eram 30 mesmo.

Olhei no espelho e senti certa gravidade na minha expressão. Percebi uma dor nas costas, que uso os óculos com maior frequência e que meu metabolismo já não é mais tão acelerado quanto antes. Virei um Balzac às avessas, com o peso dos anos, mas sem a exuberância que só as mulheres têm aos trinta anos.

Pensei em fazer uma festinha, mas lembrei que já não gosto tanto de festinhas. Lembrei que com vinte eu esperava ansioso pelas coisas, hoje espero dormindo. E que dormir é a mesma coisa que faço uma hora da madrugada de sábado. Mas também percebi que me importo muito menos com a opinião dos outros a meu respeito e que finalmente aprendi que perder também faz parte da vida.

Affonso Romano de Sant’Anna diz que até os trinta anos nós emitimos promissórias e que daqui para frente é o momento de começar a pagá-las. Um amigo me dizia que já tenho alma de trinta desde os vinte. O que me deixa ainda mais pensativo, pois agora seriam quarenta.

Eu poderia desmistificar e dizer que não muda nada. Mas o fato é que já preciso pensar para responder a idade e que já me peguei fazendo as contas da aposentadoria. Recordo que tinha pressa para chegar aos sete, dez, quinze, dezoito e vinte um. Essa pressa não existe mais. Hoje não deslizo mais no espaço, vivo no tempo.

Sonhos feitos, desfeitos, realizados, adiados, e eu descubro que sonhos vêm e vão. Que pessoas vêm e vão, e que umas poucas e boas ficam para sempre, ainda que ausentes. Já não amo porque tenho urgência, amo por amar. Rezo para agradecer e acho graça de alguns dramas do passado.

Quando eu tinha quinze anos me imaginava aos trinta e vejo que é tudo tão diferente. Gosto dessa pequena dose de maturidade que me ensinou a sepultar mágoas e tolerar cara feia. Queria ter descoberto essas coisas antes, mas sei que estou no lucro porque muitos nunca descobrem. E assim, amigos leitores, a gente segue escrevendo e inventando histórias nesse livro curioso que é a vida...