Eu que nunca tive a paciência de ser um bom colecionador juntei poucas coisas na vida. Mas uma sempre atiçou o meu interesse: bula de remédio. Fui obervando os detalhes engraçados de cada uma e comecei a juntar todas. É claro que o fato de ser hipocondríaco ajudou muito nisso. Basta que eu veja uma doença nova nos jornais e imediatamente começo a sentir todos os sintomas.
Mas minhas esquisitices a parte, as bulas são mesmo uma coisa interessante. Contam que as primeiras bulas, sem o controle que existe hoje, com a finalidade de vender os medicamentos contavam tantas vantagens mentirosas do produto que eram uma verdadeira propaganda abusiva. Daí surgir a expressão que ainda hoje se usa “fulano é mais convencido que uma bula de remédio”. Não foram poucas as bulas que descreviam esses santos remédios que serviam para curar frieira, espinhela caída, impotência sexual e outros diversos males do corpo.
A palavra bula vêm do latim “bulla” que quer dizer bola ou esfera e foi primeiramente usada para descrever as mensagens do vaticano que vinham seladas com uma esfera com o símbolo papal. Como tempo outros documentos, entre eles os descritivos de remédio também passaram a serem chamados bula.
Sempre tive curiosidade de conhecer quem desenvolvia várias pérolas de textos de bula “O produto é bem tolerado, podendo causar dores de cabeça, edema, fadiga, sonolência, náusea, dor abdominal, rubor, palpitações, tonturas, alopecia, função intestinal alterada (porque uma bula não poderia mencionar caganeira, com o perdão da palavra), artralgia, astenia, dispepsia, dispneia, hiperglicemia, hiperplasia gengival, ginecomastia, impotência (gente, o cara pode ficar brocha tomando essa coisa), aumento da frequência urinária, leucopenia, mal estar, mudança nos humores”. Nada foi inventado. Fico só imaginando como seria se o produto fosse mal tolerado. Fala se não dá vontade de enquadrar uma maravilha dessas. Realizem a cena: “Dr. Meu irmão tomou o remédio e matou a esposa”, “mas a bula era clara que podia haver mudança de humores, não reclame.”
Bula também é lugar de poesia “como efeito do excesso medicamentoso, o paciente pode evoluir para o “exitus letalis”. Olha que linda maneira de dizer que o sujeito pode morrer. O departamento jurídico resguarda o produto sem precisar dizer que o cara pode bater as botas. Não é poético? É muito melhor ter “exitus letalis” do que morrer.
Sinto uma vez ter perdido várias de minhas preciosas bulas, algumas em inglês francês e italiano. Mas vamos recompondo a coleção. Entre bulas e guitarras, o que não vale é colecionar amarguras e rancores. Essas coisas a gente vai deixando pelo caminho...

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