Não adianta mais relutar. Não tem jeito de esconder.
Eles chegaram... meus 30 anos estão
batendo a porta e trazendo consigo uma ruga na testa e três ou quatro fios de
cabelo branco. Cheguei a recontar na mão a minha idade pensando que pudesse ser
algum erro, uma das minhas muitas trapalhadas com contas, mas dessa vez eu
estava certo, eram 30 mesmo.
Olhei no espelho e senti certa gravidade na minha
expressão. Percebi uma dor nas costas, que uso os óculos com maior frequência e
que meu metabolismo já não é mais tão acelerado quanto antes. Virei um Balzac
às avessas, com o peso dos anos, mas sem a exuberância que só as mulheres têm
aos trinta anos.
Pensei em fazer uma festinha, mas lembrei que já não
gosto tanto de festinhas. Lembrei que com vinte eu esperava ansioso pelas
coisas, hoje espero dormindo. E que dormir é a mesma coisa que faço uma hora da
madrugada de sábado. Mas também percebi que me importo muito menos com a
opinião dos outros a meu respeito e que finalmente aprendi que perder também
faz parte da vida.
Affonso Romano de Sant’Anna diz que até os trinta anos
nós emitimos promissórias e que daqui para frente é o momento de começar a
pagá-las. Um amigo me dizia que já tenho alma de trinta desde os vinte. O que
me deixa ainda mais pensativo, pois agora seriam quarenta.
Eu poderia desmistificar e dizer que não muda nada.
Mas o fato é que já preciso pensar para responder a idade e que já me peguei
fazendo as contas da aposentadoria. Recordo que tinha pressa para chegar aos
sete, dez, quinze, dezoito e vinte um. Essa pressa não existe mais. Hoje não
deslizo mais no espaço, vivo no tempo.
Sonhos feitos, desfeitos, realizados, adiados, e eu
descubro que sonhos vêm e vão. Que pessoas vêm e vão, e que umas poucas e boas
ficam para sempre, ainda que ausentes. Já não amo porque tenho urgência, amo
por amar. Rezo para agradecer e acho graça de alguns dramas do passado.
Quando eu tinha quinze anos me imaginava aos trinta e
vejo que é tudo tão diferente. Gosto dessa pequena dose de maturidade que me
ensinou a sepultar mágoas e tolerar cara feia. Queria ter descoberto essas
coisas antes, mas sei que estou no lucro porque muitos nunca descobrem. E
assim, amigos leitores, a gente segue escrevendo e inventando histórias nesse
livro curioso que é a vida...