sexta-feira, 27 de junho de 2008

"o essencial é invisível aos olhos"

segunda-feira, 28 de abril de 2008

I Wish you love

"Eu te desejo passarinhos na primavera
Para que seu coração tenha uma canção para cantar
E então um beijo, mais do que isto
Eu te desejo amor
E em julho uma limonada
Para te refrescar em alguma grande clareira
Eu te desejo saúde
Mais do que riqueza
Eu te desejo amor
Meu coração partido e eu concordamos
Que eu e você nunca poderíamos ter dado certo
Então com o meu melhor
O melhor de mim
Eu te deixo livre
Eu te desejo abrigo da tempestade
Uma gostosa fogueira para te manter quente
Mas, sobretudo, quando a neve cair
Eu te desejo amor"

(Rachael Yamagata)

domingo, 27 de abril de 2008

Indios

Os índios fascinam a gente porque são anteriores ao tempo.

Ao que parece, eram nômades natos. Banhistas contumazes. Mulherengos.

Como todos os povos que atingiram um alto nível de civilização, os índios eram irrevogavelmente distraídos.

Não costumavam trabalhar. Já que não lhes apetecia comprar nem vender, qualquer trabalho resultava-lhes supérfluo.

E os índios desprezavam o supérfluo, ao contrário de nós próprios que, fabricando diariamente milhares de objetos, acabamos por desembocar na guerra, máquina de matar homens e de... Incinerar objetos.

É um erro pensar que o índio prefere a nossa civilização!


Colagem de pensamentos - ÍNDIOSAntônio Callado / Murilo Mendes / Noel Nutels

terça-feira, 15 de abril de 2008

Palavras de Drumonnd

Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar.

terça-feira, 8 de abril de 2008

tudo na vida é relativo...

Fim de tarde, um ginecologista aguarda sua última paciente que não chega.
Depois de 45 minutos, ele supõe que ela não virá mais e resolve tomar um gin tônica para relaxar, antes de voltar para casa. Ele se instala confortavelmente numa poltrona e começa a ler o jornal quando toca a campainha. É a tal paciente, que chega toda sem graça e pede mil desculpas pelo atraso.
- Não tem importância, imagine! - responde o médico - Olhe, eu estava tomando um gin tônica enquanto a esperava. Quer um também para relaxar?
- Aceito com prazer - responde a paciente aliviada.
Ele lhe serve um copo, senta-se na sua frente e começam a bater papo. De repente ouve-se um barulho de chave na porta do consultório. O médico tem um sobressalto, levanta-se bruscamente e diz:
- É minha mulher! Rápido, tire a roupa, deite na cama e abra as pernas, senão ela pode pensar bobagem!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A esperança é feita de infinitas esperas, de efêmeras conquistas, de vitórias adiadas...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na luaComo ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua vozParece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul...

(zeca baleiro)

O fim da estória

Eu nunca sei quando as estórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término.

Talvez por ser mais espectador, ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida, tenha essa enfermidade de não dar conta de quando baixa o pano.

As luzes apagam, o público sai, os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá: com a fala na cabeça, o texto decorado, aguardando a deixa.

A deixa que nunca vem.

Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia teatral, onde sou diretor; contra-regra; atores e público.

Enceno só para mim uma tragicomédia.A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo do palco, muitas vezes, a sussurrar o texto a mim mesmo.

Às vezes não ouço.

Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula...

O público não entende a peça, logo, não aplaude. Eu, furioso, demito a todos: ao autor; ao diretor; aos atores...

Expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo.

E ali dentro fico eu, junto às cortinas e aos holofotes, incandescentes; queimando, queimando, queimando...

Alejandro da Costa Carriles

O Idiota

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o
Idiota DA aldeia.
Era um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e
Esmolas.
Diariamente else chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele
A escolha entre
Duas moedas: uma Grande de 400 réis e outra menor, de 2000 réis. Ele sempre
Escolhia a maior
E menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não
Havia percebido
Que a moeda maior valia menos.
- Eu sei, respondeu o não tão tolo assim. Ela vale cinco vezes menos mas,
No dia que eu escolher
A outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda."
Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:
A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda : Quais eram OS verdadeiros babacas DA história?
A Terceira : Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de
Renda.
Mas a conclusão mais interessante é a percepção de que podemos estar bem,
Mesmo quando
OS Outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.Portanto, o que importa
não é o que pensam
De nós, mas sim o que realmente somos.
" O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um
Idiota que banca o inteligente"

sábado, 29 de março de 2008

Receita pra lavar palavra suja

Mergulhar a palavra suja em água sanitária, e depois de dois dias de molho quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras, quando são alvejadas ao sol, adquirem consistência de certeza, como, por exemplo, a palavra vida. Existem outras, e a palavra amor é uma delas, que são muito encardidas e desgastadas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra e depois enxaguar em água corrente. São poucas as palavras que resistem a esses cuidados, mas sempre existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeiras difíceis, mas toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão. Eu nunca vi palavra tão suja quanto perda; perda e morte, na medida em que são alvejadas, soltam um líquido corrosivo que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua. O conselho nesse caso é mantê-las de molho num amaciante de boa qualidade.
Mas se o que você quer é só aliviar as palavras do uso diário, pode usar sabão em pó e máquina de lavar. O perigo é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo, mancha tudo que encontra, e deve sempre ser alvejada sozinha. Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo. Desejo é uma palavra intensa e pode, o que não é evitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
É importante não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido. Aquela sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa. Conviva com as palavras durante alguns dias, deixe que se misturem em seus gestos e que passeiem pela expressão de seus sentidos. À noite, permita que se deitem não ao seu lado, mas sobre o seu corpo. Enquanto você dorme a palavra plantada em sua carne prolifera em toda a sua possibilidade.
Se você puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, aí você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Viviane Mose

Mulher de Rosa

Depois de regar suas plantas, como fazia todos os dias, olhou a paisagem da janela demoradamente. Se colocou, então, no ritual diário. Tomou seu banho com delicadeza e vagar. Gostava de ver como a espuma era parcialmente dissolvida pela água que escorria do seu corpo e do chuveiro e era levada pelo ralo. Chegou a achar graça dessa pequena aventura que trilhava a espuma. Desligou o chuveiro e secou-se com esmero. Vestiu-se, como fazia todos os dias, com a roupa que se sentia mais bonita, um vestido rosa que comprará em um brechó e do qual encomendara outras quatro ou cinco reproduções idênticas. Pôs a fita rosa na cabeça e fez o laço, da mesma maneira que todos os dias. Passou o batom com delicadeza e sorriu ao ver-se no espelho. Cuidou de todos os detalhes da maquiagem, não permitindo que nada passasse desapercebido. Por sob a meia calça de tom escuro, colocou o seu sapato cor de rosa. Borrifou sobre si o mesmo perfume que usava a quinze anos, mas respirou o ar perfumado a sua volta como se fosse a primeira vez que sentisse aquele aroma. Decidida, abriu a porta e pegou o elevador rumo ao buffet por quilo que ficava no primeiro andar do seu prédio. Após servir-se sentou-se na mesma mesa de todos os dias. Solitária como todos os dias. Ninguém para quem pudesse criticar ou elogiar a comida. As pessoas a sua volta a olhavam com ar de deboche. Cochichavam entre si e riam dela. O que eles não sabiam é que ela era a bondade em pessoa.

Natal dos Reis Carvalho Júnior
(inspirado no Homem Inesperado)

quinta-feira, 27 de março de 2008

A Dança

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma..

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra..

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira, .

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

Julgamento Antecipado 1

Julgamento Antecipado 2

Julgamento Antecipado 3

Olhe ao redor


Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Linspector
Eu não nasci no começo desse século.
Eu nasci no plano do eterno.
Eu nasci de mil vidas superpostas.
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Eu vim para conhecer o mal e o bem.
E para separar o mal e o bem.
Eu vim para amar e ser desamado.
Eu vim para ignorar os grandes e consolidar os pequenos.
Eu não vim construir a minha riqueza.
Não vim construir a minha própria riqueza.
Mas não vim para destruir a riqueza dos outros.
Eu vim para reprimir o choro formidável.
Esse choro formidável que as gerações anteriores me transmitiram.
Eu vim para experimentar a dúvida e a contradição.
E aprendi que é preciso idolatrar a dúvida.

Murilo Mendes
"Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Luis Fernando Veríssimo

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço,
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente ;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,Cansaço...

Fernando Pessoa